Por quê? (207) Choques e mortes


Cláudio Amaral

A sequência de choques de trens contra veículos automotores do início de setembro de 2010 me fez voltar aos tempos de infância.

Eu morava na pequena mas aconchegante cidade de Adamantina, há cerca de 600 quilômetros da Capital paulista, onde hoje vivo há 40 anos.

Era feliz e sabia, ao contrário do que dizem por aí há muitos anos.

Sabia mas queria mais.

E lá pelos lados de Adamantina corriam histórias chocantes a respeito de uma passagem de nível existente entre aquela e a cidade de Lucélia.

Lucélia e a Adamantina eram ligadas (ou melhor seria dizer separadas?) por uma estrada de terra de 7 quilômetros de extensão.

Eu, particularmente, nunca fui a pé de uma cidade a outra, mas quem foi me contou que a terra (ou seria areia?) era quente, tanto durante o dia quanto à noite.

Mais de dia do que de noite.

Bem, mas o fato é que o povo comentava lá pelos lados de Adamantina e Lucélia que muitos anos antes do meu nascimento, que se deu a 3 de dezembro de 1949, uma composição férrea havia se chocado com um ônibus e tirado a vida de muita gente.

Mais, muito mais do que as nove pessoas que morreram quarta-feira passada, dia 9 de setembro de 2010, no centro de Americana, na região de Campinas.

A colisão desta quarta-feira foi tão violenta que deu origem a uma capa chocante n’O Liberal de quinta-feira (9/9/2010), sob o título “TRAGÉDIA DO VCA 141”.

Sob essa manchete o jornal publicou uma imagem do acidente e a seguinte legenda: “M O R T E S N A L I N H A Atingido por trem de carga, ônibus da empresa VCA que fazia a linha Unisal/Jardim Brasil/Zanaga 1 foi partido ao meio e arrastado por cerca de 100 metros”.

VCA, antes que você me pergunte, caro e-leitor, é a sigla da empresa responsável pelo transporte urbano de Americana. E 141 é o número da linha.

Isto posto, é imperioso relatar que na sequência dos fatos outros tantos aconteceram.

Nenhum, entretanto, chegou a superar a violência daquele que eu nunca havia visto.

Portanto, mais do que ver, eu queria saber. Mas nunca soube.

Por quê?

Ah... e você ainda pergunta por que, caro e-leitor?

(*) Cláudio Amaral clamaral@uol.com.br é jornalista desde 1º de maio de 1968.

10/9/2010 16:10:08

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