Por quê? (339) – A alegria de morar aqui…
Cláudio
Amaral
Morar bem é um privilégio. Um
privilégio que poucos podem dizer que têm. E eu sou um deles. Eu, minha Sueli,
nossos filhos… Nossos netos, também, por que não?
Vivo dizendo – sim, vivo
dizendo, por que não admitir? – que gostaria de viver num apartamento. De preferência,
num apê dos menores. Um apê tipo daquele que morei a partir do início de
setembro de 1971, quando Sueli e eu nos casamos.
Nosso primeiro apartamento
ficava num prédio situado quase no final da Rua Nicolau de Souza Queiroz, na
Aclimação. Era minúsculo. Não passava de 40 metros quadrados e nem garagem
tinha.
Mas, também, se não tínhamos
carro, por que iríamos querer garagem.
Na época – setembro de 1971,
repito – eu me deslocava pela manhã até a Rua Major Quedinho, no centro velho
de São Paulo, e de lá voltava, tarde da noite, usando os ônibus elétricos da
CMTC. Eram os famosos “chifrudos”, assim apelidados porque tinham dois mastros
saindo da parte traseira e ligando os motores à rede aérea de energia elétrica.
E a aqueles que perguntavam
do meu carro eu respondia: Carro? Para quê eu quero carro, se posso ir e vir com
a vantagem de ter motorista – no caso, condutor – particular?
Era muito divertido apreciar
a cara de espanto dos meus colegas de reportagens, fossem eles do Estadão, onde
eu trabalhava, ou de qualquer outro jornal ou rádio ou televisão. Site, não,
porque naquela época não havia Internet.
Da Rua Nicolau de Souza
Queiroz a família, que já havia crescido, se mudou para uma moradia própria na
Rua Machado de Assis, ainda na Aclimação. E de lá, anos depois, viemos para
nossa atual moradia, na Rua Gregório Serrão.
Moramos inicialmente de
aluguel, mas logo compramos a casa. Uma moradia ampla, com três pavimentos e
acomodações para todos: o casal e os três filhos.
E a aqueles que perguntam
pelo meu endereço, explico, invariavelmente: vivo na Aclimação, uma pequena
cidade do interior, nas proximidades do centro da maior cidade do País.
Digo isso e por dentro, sem
que eles percebam, dou risadas – ou melhor, gargalhadas –, imaginando a inveja
que sentem. E hoje, exatamente hoje, dia 19 de abril de 2014, penso que
sentiriam – ou sentirão? – inveja maior ainda. Afinal, fui acordado por um
passarinho, logo cedo, cedinho.
Meu relógio de cabeceira não marcava
nem seis horas da manhã quando tal figurinha se alojou do lado de fora da minha
janela e se pôs a cantar. Minha alegria foi indescritível. Nem abrir a janela
eu tive coragem. Não queria espantá-lo. Não desejava incomodá-lo.
Horas depois, quando passava
das 15h30, terminei a leitura do Estadão do dia, me levantei, afastei a cadeira
da mesa da sala e olhei pela janela. E lá estavam dois passarinhos. Haviam se
acomodados no muro que separa minha casa do prédio ao lado, o “espigão”
construído na esquina das ruas Gregório Serrão e Machado de Assis. Nem me mexi.
Nem abri a boca. Agradeci a Deus – mentalmente – pelo privilégio de morar aqui,
de estar vivo, com saúde e de poder apreciar o dia maravilhoso que faz hoje.
Por fim, fiz um pedido, desta
vez de viva voz: queria que eles, os dois, viessem até a soleira da janela da
sala. E, sem medo, até porque sou do Bem e da Paz, viessem cantar prá mim. Do mesmo
jeito que um deles, seja lá qual for, cantou pela manhã, na janela do meu
quarto.
Por quê?
Ah... e você ainda pergunta por que, caro e-leitor?
Ah... e você ainda pergunta por que, caro e-leitor?
(*) Cláudio Amaral clamaral@uol.com.br é jornalista desde 1º de maio de 1968, Mestre em Jornalismo para Editores pelo IICS/SP (Turma de 2003) e estudante de História na FMU/Liberdade/SP desde 1º. de fevereiro de 2013.
19/04/2014 16:23:46
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