Por quê? (343) – Cortez, o livreiro do Brasil.
O TUCA no dia 10/6/2014 e as paredes preservadas após o incêndio de 30 anos passados
Cláudio
Amaral
Tive, na manhã desta
quinta-feira (03/07/2014), oportunidade de conhecer bem de perto uma das
figuras mais interessantes dentre todas as com quem dialoguei pessoalmente
nestes meus 64, quase 65 anos de vida: José Xavier Cortez, que a partir de
agora, para mim, é “o livreiro do Brasil”.
A primeira vez que vi Cortez
ao vivo foi no auditório do TUCA, o Teatro da Universidade Católica de São Paulo.
Era noite de 10 de junho de 2014 e eu estava lá por conta de uma palestra e do
lançamento do livro Educação, Escola e
Docência: novos tempos, novas atitudes.
O Professor Mario Sergio
Cortella era o palestrante e o autor do livro. Mas quem providenciara (e bancava)
tudo era a Cortez Editora. E nada mais justo que o diretor-presidente da
empresa fizesse a apresentação do evento.
Pois bem: de repente, do
nada, um senhor de pouco mais de 70 anos de idade, estatura baixa, forte
sotaque nordestino, subiu ao palco e começou a falar. E, mesmo sem ser
apresentado e nem se apresentar à platéia, contou a nós todos, centenas de pessoas,
a razão de as paredes do TUCA terem sido mantidas tal qual ficaram após o
incêndio de 30 anos passados. Ainda que o imóvel tivesse sido reformado tão
logo a ditadura pós-1964 permitira.
Na sequência veio uma outra
pessoa. Um homem alto, corpulento, voz forte e que dispensava apresentação. Todos
nós sabíamos que ele era o Professor Cortella e qual era a razão da presença dele
no local.
Antes, entretanto, de fazer a
tão esperada palestra e nos apresentar o conteúdo do livro em lançamento,
Cortella falou do pequeno grande homem que o antecedera no palco: José Xavier
Cortez, que há mais de 50 anos saira do sertão do Rio Grande do Norte para
arriscar a vida em São Paulo. E que vencera em terras paulistanas. Primeiro
lavando carros e depois vendendo livros nos corredores da PUC para pagar o
curso superior de Economia. Agora, família constiuída e formada, homem vitorioso
e empresário bem-sucedido, Cortez alí estava para defender “a cultura da paz”
com o objetivo de “evitar a violência” entre os seres humanos. E principalmente
entre as crianças.
Cortez me impressionou tanto
que imediatamente após chegar em casa, naquela noite, escrevi a ele e pedi um
encontro. Queria conhecer de perto aquela figura e suas histórias de vida.
Foi o que fizemos na manhã
desta quinta-feira, entre 10h30 e 11h45, na sala simplissima da presidência que
ele ocupa na Cortez Editora. Ele falou em detalhes da vida toda, da mulher
(Potira), das três filhas (Mara, Marcia e Miriam), dos pais (Mizael e Alice),
dos irmãos, dos amigos, das festas, da dança (especialmente o forró, o ritmo
preferido dele), da admiração pelo Barão de Mauá e de tudo (ou quase tudo) que
ele mais gosta. Incluindo os livros, claro.
Falou e perguntou. Gostou de
saber que Flávio Luís Rodrigues, autor de “Vozes do Mar – O movimento dos marinheiros
e o golpe de 64”, editado pela Cortez, é meu Professor de História na FMU. E repetiu
que tem preferência por autores nacionais, cujos livros oferece às empresas
estrangeiras em todas as feiras no exterior, por entender o Brasil tem muito
mais a oferecer do que a importar.
Por fim, Cortez me explicou a
paixão que tem pelo Brasil e pela transmissão das experiências próprias em todo
tipo de escola, da pública à particular, nos bairros pobres e ricos. Disse que
foi por isso que criou o projeto “Rodas de Conversa”, que objetiva difundir “A
leitura, o livro e o editor”.
Esse, certamente, será o
maior “gol de placa” que José Xavier Cortez fará em todo a vida.
Por quê?
Ah... e você ainda pergunta por que, caro e-leitor?
Ah... e você ainda pergunta por que, caro e-leitor?
(*) Cláudio Amaral clamaral@uol.com.br é jornalista desde 1º de maio de 1968, Mestre em Jornalismo para Editores pelo IICS/SP (Turma de 2003) e estudante de História na FMU/Liberdade/SP desde 1º. de fevereiro de 2013.
03/07/2014 22:16:51
Comentários
Enviada: Sábado, 12 de Julho de 2014 13:57
Para: clamaral@uol.com.br
Assunto: CORTEZ, O LIVREIRO DO BRASIL
Caro Cláudio
Conheci Cortez quando terminei meu mestrado e um amigo dele, a quem tinha entrevistado no Rio de Janeiro, recomendou-lhe a edição da Dissertação.
Fiquei impressionado com sua competência e da sua equipe.
A objetividade, a acessibilidade e a simplicidade no trato com as pessoas, bem como nas atividades editoriais, são marcas que Cortez imprimiu a sua Editora.
Quanto à pessoa de Cortez, TODOS os marinheiros que entrevistei, mais de 20, e que o conheceram nos idos da década de 1960, só elogiaram sua conduta antes e depois do Golpe de 1964. Pude verificar sua retidão através de seus depoimentos nos Inquéritos Policiais Militares - IPMs, em que manteve-se fiel aos seus princípios, contrários aos dos ditadores de plantão. Sua trajetória de vida comprova sua lisura: Expulso da Marinha pelo Golpe de 1964, começou a vender livros para financiar seus estudos na PUC-SP. Desde aqueles tempos até hoje, Cortez trabalha na divulgação do conhecimento, para futuros profissionais do conhecimento - como educadores, psicólogos e outros - e, recentemente, para crianças.
Grande abraço.
Flávio Rodrigues