Por quê? (416) – O Pracinha e o Policial Militar


O SD. PM. Villas Bôas é o único a usar óculos escuros na foto do dia 27/8/1975

Cláudio Amaral

O cidadão José Padilla Bravos morreu financeiramente pobre, em Marília (SP), no dia 15 de Agosto de 1999. Mas, ao mesmo tempo, era um homem riquíssimo em matéria de bondade, humanidade e amizade. Era amado e respeitado pelos familiares e tinha uma infinidade de amigos. Entre eles existem até hoje, 22 anos depois do seu desaparecimento físico, gente que relembra dos seus feitos, especialmente os atos generosos daquele herói da Segunda Guerra Mundial (1939 a 1945).

O Advogado Celso Roberto Villas Bôas de Oliveira Leite é um deles. É cidadão que se lembra, como se fosse hoje, 46 anos depois, de pelo menos uma generosidade praticada pelo Cabo Padilla. O fato se deu em 27 de Agosto de 1975, em Marília.

Villas Bôas me escreveu este mês para relatar, em detalhes, a admiração que sente pelo cidadão que na pia batismal recebeu o nome de José Padilla Bravos. O mesmo que ficou conhecido como Padilla (primeiro como soldado e depois como cabo) durante o tempo em que serviu o Exército do Brasil em território nacional e os cinco anos em que lutou em defesa das cores da nossa Pátria no Exterior. E que finalmente ficou publicamente famoso como o Jornalista José Arnaldo, de 1945 a 1999, trabalhando para o diário Correio de Marília.

O relato de Villas Bôas detalhou a mim que em Agosto de 1975, quando era conhecido como SD. PM. Villas Bôas e trabalhava em Marília, ele foi designado pelo respectivo comando para comparecer ao Colégio Sagrado Coração de Jesus. Lá deveria participar (como de fato participou) de uma homenagem aos policiais de trânsito da cidade. Após o término do evento ele soube por alunas daquele estabelecimento de ensino que lá haveria uma gincana e que um dos quesitos incluía conseguir localizar e trazer a aquele ambiente “um Pracinha brasileiro devidamente fardado”. Ele se lembrou que o Cabo Padilla morava em frente ao Sagrado Coração de Jesus, foi até a casa de José Arnaldo e fez o convite a ele. O convite foi aceito, revelou Villas Bôas. Mas e o fardamento? De imediato foi solucionado aquilo que poderia ser um grande problema, porque o Pracinha tinha no guarda-roupas um uniforme dos seus tempos de guerra. Mas e a farda ainda lhe serve, foi a pergunta que ambos se fizeram. Em minutos a dúvida foi solucionada e a resposta foi “sim, serviu”. Devidamente vestido, o Pracinha e o PM atravessaram a Rua Nelson Spielmann novamente e a solenidade pode ter sequência.

Por instantes, lembra Villas Bôas, disfarcei, saí da presença do Cabo Padilla, fui até o Comandante da Banda de Música da Polícia Militar e combinei com ele a execução de uma obra surpresa: a Canção do Expedicionário. E assim foi feito ainda durante o evento. Ao final, ambos, Pracinha e Policial Militar, emocionados, respiraram aliviados diante da constatação de que não sofriam de problemas cardíacos. Especialmente o herói da Segunda Guerra Mundial.

Villas Bôas relembra que, ao final do evento, Padilla estava visivelmente emocionado. Tinha o semblante a demonstrar que se sentia com o dever cumprido. Até porque cerca de 30 anos haviam se passado do fim do maior conflito bélico mundial de então. Como forma de recompensar o agente daquela emoção histórica e inesquecível, Padilla o levou de volta à residência da família, mostrou as relíquias que guardava de recordação e deu ao SD. PM. uma águia alemã, bordada em pano, que era costurada na túnica militar alemã, no lado direito da farda. “Esse prêmio é uma grata lembrança que ostento até hoje, orgulhosamente, em um quadro na parede de meu escritório, em Ponta Porã, no Mato Grosso do Sul”, me escreveu o ex-SD. PM.

Ao narrar esse fato, Villas Bôas não só me pediu que o deixasse registrado para todo o sempre junto aos textos da coluna diária “De Antena e Binóculo” recuperadas e republicadas após a morte do Jornalista José Arnaldo. É que ele deseja, dessa forma, dar a respectiva contribuição para que seja possível perpetuar a memória deste brasileiro tido como um dos milhares Pracinhas que lutaram na Europa (na Itália, principalmente) e que de lá voltaram como heróis.

Por quê?

Ah... e você ainda pergunta por que, caro e-leitor?

(*) Cláudio Amaral (clamaral@uol.com.bré Católico Apostólico Romano, Corinthiano e devoto de Santo Agostinho e Santa Rita de Cássia. É autor dos livros Um lenço, um folheto e a roupa do corpo (2016) Por quê? Crônicas de um questionador (2017). É Jornalista desde 01/05/1968, Mestre em Jornalismo para Editores pelo IICS/SP (2003) e Biógrafo pela FMU/Faculdade de História/SP (2013/2015).

30/08/2021 16:44:00 (pelo horário de Brasília)

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