Por quê? (407) – O bolo preto


Paulo César Bravos está na capa do livro Por quê? Crônicas de um questionador 
ao lado da sobrinha Cláudia e em pelo menos sete crônicas de Cláudio Amaral

Cláudio Amaral

O bolo preto foi tema do café da tarde de hoje, dia 1º de Janeiro de 2021, que vem a ser também primeira sexta-feira do mês e do Ano-Novo.

Estávamos sentados à mesa da nossa cozinha, Sueli Bravos do Amaral e ieu, quando ela me relatou a conversa que teve instantes atrás com a mãe dela, Aparecida Grenci Bravos.

Sueli queria fazer a Bisa Cida se lembrar do aniversário do terceiro filho que o casal José e Aparecida tiveram em 1951, em Marília (SP). E como a mãe custou a se recordar, a filha cerrou os punhos, bateu com os dois na mesa e disse: Eu não quero bolo preto. Eu não quero bolo preto.

Foi o suficiente para a mãe/avó/bisa dizer na hora: Hoje é aniversário do Paulo César!

Sim. Acertou. Hoje, se vivo estivesse, Paulo César Bravos estaria completando 70 anos de idade. Só não está porque Deus, como acreditamos todos nós, os Cristãos, o chamou às 11h30 do dia 6 de Janeiro de 2008.

Ele tinha 57 anos quando nos deixou e a tal história do bolo preto estava a completar pouco mais de 50 anos. Foi um caso ocorrido num aniversário de 3 ou 4 ou 5 anos do menino que vivia em Marília.

Como sempre, aquela data não poderia passar em branco e a mãe resolveu fazer um bolo para que o aniversariante e seus parentes e amigos cantassem Parabéns a você, para que ele pudesse apagar a velinha e todos, alegres e felizes, comessem o bolo.

Ocorre que, sabe-se lá a razão, o bolo assou por demais e a parte de baixo queimou, ou seja, ficou preta, bem preta. E o menino, cheio de esperteza, notou o que acontecera assim que a mãe colocou na mesa a tão esperada guloseima confeitada por ela.

E, ato contínuo, o pirralho gritou a plenos pulmões: Eu não quero bolo preto. Eu não quero bolo preto.

O pânico foi geral. Até porque todo dia 1º de Janeiro nada (ou quase nada) abre as portas. Mas, tal qual num passe de mágica, surgiu uma irmã da mãe, a hoje saudosa tia Madalena, que disse com segurança absoluta: Deixa que resolvo o problema num minuto. E tentou resolver, mesmo, usando uma faca pequena, com a qual raspou tudo (ou quase tudo) que estava queimado.

Nem assim, entretanto, o pequeno Paulinho ficou satisfeito e não se acalmou. Pelo contrário. Voltou a gritar: Eu não quero bolo preto. Eu não quero bolo preto.

O final da história do bolo preto ninguém sabe, ninguém lembra. Sabe-se apenas que Paulo César cresceu, se profissionalizou como Repórter Fotográfico, se mudou de Marília, ganhou o mundo e depois aquietou-se (ou quase) em São Paulo, Capital, onde nos deixou após dois meses de internação numa UTI do Hospital Paulistano, no bairro do Paraíso.

Na época ele fotografava para o jornal carioca O Globo e o paulistano Diário de S. Paulo. Paralelamente, militava com dedicação a questões políticas, futebolísticas e carnavalescas, sem jamais esquecer da família: a esposa Marilena e as filhas Vanessa, Thaís e Renata.

O falecimento de Paulo César Bravos foi sentido por muita gente. E até hoje ele é lembrado com saudade, respeito e admiração por amigos e parentes. Seus feitos e suas memórias estão documentados em incontáveis fotografias que ele nos deixou. E, em parte, podem ser relembradas em pelo menos sete das 100 crônicas que reuni no livro Por quê? Crônicas de um questionador, publicado em 2017.

Neste primeiro dia de 2021, enquanto lembramos o 70º aniversário de Paulo César Bravos e estamos prestes a reverenciar a passagem do 13º ano de falecimento deste incansável cidadão brasileiro, temos mais um fato a lamentar: ele não está aqui, entre nós, para ver o desempenho do time dele, o SPFC, que lidera a classificação geral do Brasileirão 2020/2021 e é o mais sério candidato a mais um importante título, daqueles que o Tricolor não ganha há tempos.

É por essas e outras que ficamos a imaginar a alegria que, se entre nós estivesse, Paulo César Bravos estaria vivendo neste dia do 70º aniversário dele.

Por quê?

Ah... e você ainda pergunta por que, caro e-leitor?

(*) Cláudio Amaral (clamaral@uol.com.bré Católico Apostólico Romano, Corinthiano e devoto de Santo Agostinho e Santa Rita de Cássia. É autor dos livros Um lenço, um folheto e a roupa do corpo (2016) Por quê? Crônicas de um questionador (2017). É Jornalista desde 01/05/1968, Mestre em Jornalismo para Editores pelo IICS/SP (2003) e Biógrafo pela FMU/Faculdade de História/SP (2013/2015).

01/01/2021 19:23:41 (pelo horário de Brasília) 

Comentários

Leitura gostosa e de reminiscências que trazem à memória nossos tempos de criança. Gostei amigo.

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