Por quê? (409) – Quando...


Cláudio Amaral

Quando tudo era importante, ele pouca importância dava para o que tinha, sabia e podia fazer.

Quando ele tinha a boca cheia de dentes, ele não sorria, nem fazia a mínima questão de mostrar a alegria que estava a sentir.

Quando ele era considerado um homem bonito, não valorizava a própria beleza.

Quando ele estava cheio de saúde, fazia pouco caso do próprio bem-estar.

Quando o dia estava claro, ensolarado, para ele era o mesmo que estar carrancudo, nublado.

Quando ele ganhou o primeiro brinquedo, a reação foi nenhuma; ele reagiu como se tivesse milhares e milhares de objetos para brincar e se divertir.

Quando ele recebeu o primeiro elogio da vida, nada, nenhuma reação ele teve; nem contra, nem a favor.

Quando alguém perguntou qual era a cor favorita dele, ele não fez a menor questão de dizer ou azul ou preta ou vermelha; tudo para ele era cor, a mesma cor.

Quando a moça mais bela do pedaço deu bola para ele, a reação dele foi de indiferença; até parecia que não se interessava por mulher.

Quando a pergunta foi referente ao prato preferido dele, a reação foi zero, ou seja, nenhuma; ele deu a entender que todas as comidas eram iguais, tinham o mesmo sabor.

Quando o assunto era bebida (água, suco, cerveja, vinho...), novamente nenhuma reação ele teve; nenhuma.

Você gosta de política (?), alguém perguntou a ele. E ele apenas pensou, e nada disse, como se compartilhasse do pensamento das pessoas que entendiam que política e políticos representam as piores coisa já inventadas pelo homem; sim, porque, na opinião dele, coisas desses tipos não poderiam ter sido imaginadas por Deus.

E religião? O que ele pensava quando o assunto era religião? Nada, absolutamente nada. Para ele todas as religiões eram iguais.

Amigos. Ele tinha Amigos?

Amor, compaixão, solidariedade, fraternidade, bem-comum? Ele sabia o que era isso? Ou só pensava nele e nos seus interesses?

Nada o tirava do sério. Nada.

Nada nem ninguém.

Mas, um dia, sim, um certo dia, ele perdeu tudo, absolutamente tudo. E aí ele não teve do quê, nem como reclamar, nem a quem pedir socorro.

Por quê?

Ah... e você ainda pergunta por que, caro e-leitor?

(*) Cláudio Amaral (clamaral@uol.com.bré Católico Apostólico Romano, Corinthiano e devoto de Santo Agostinho e Santa Rita de Cássia. É autor dos livros Um lenço, um folheto e a roupa do corpo (2016) Por quê? Crônicas de um questionador (2017). É Jornalista desde 01/05/1968, Mestre em Jornalismo para Editores pelo IICS/SP (2003) e Biógrafo pela FMU/Faculdade de História/SP (2013/2015).

22/01/2021 21:50:02 (pelo horário de Brasília)

Comentários

Geraldo Nunes disse…
Gostei muito da sua crônica. Parabéns.

Postagens mais visitadas deste blog

Por quê? (111) Rumo a Adamantina

Por quê? (440) – A 15ª vez, uma das melhores viagens

Por quê? (442) – Saudade