Por que? (446) - Santos, Santos, Santos...
Cláudio Amaral (*)
Eu era jovem, muito jovem, jovem meismo,
quando fui a Santos pela primeira vez. Fomos eu e uma turma de adolescentes de
Adamantina, minha cidade natal, que passava férias em São Paulo, Capital. Descemos
a Serra do Mar e passamos um dia muito divertido nas praias da Capital da
Baixada.
Depois disso, voltei outras vezes a
aquela agradável e aplausível cidade praiana. Na maioria das vezes a trabalho e
a mando dos meus chefes no jornal O Estado de S. Paulo, que nos anos 1970 era o
maior diário do País.
Foi numa dessas idas a Santos que
antecipei o fim da carreira de Pelé no Glorioso SantosFC. E, igualmente numa viagem
a Santos, fiz uma reportagem especial a respeito da ideia dos dirigentes
santistas de transformar o Parque Balneário em cassino, com o objetivo de tirar
o bicampeão mundial da crise financeira. Deu página inteira no Estadão, graças
ao capricho do Editor Clóvis Rossi.
Desde então, nunca perdi uma
oportunidade de ir a Santos.
Mas, a melhor de todas aconteceu a partir do dia 29 de Setembro de
2008. E foi graças ao convite do Amigo Wilson Marini, Jornalista como eu
e a partir de então novo Editor-chefe do jornal A Tribuna de Santos (hoje
Marini é gestor da Marini Soluções Editoriais: https://www.marinisolucoes.com.br).
Vivemos uma das melhores fases
das nossas vidas, eu e a minha esposa Sueli Bravos, que acabamos de completar
75 anos de vida bem vivida e que fizemos questão de relatar e registrar na
minha quinta obra literária: Meus Escritos de Memória, que saiu do papel
e da tela do computador graças ao apoio do Amigo e Editor Adriano Patriani e da
www.editorapatriani.com.br.
Ficamos a viver em Santos por quase
dois anos, em 2008 e 2009. E só retornamos de vez para nossa residência e da
Família, na Capital paulista, por conta de outros compromissos pessoais e
profissionais.
Foi em Santos, por exemplo,
naquela época, que a Sueli se descobriu uma profissional de Patchwork, mais
conhecida como colcha de retalhos, mas que vai muito além disso. E foi assim
que ela produziu integralmente o enxoval do nosso Pequeno Príncipe, o Murilo do
Amaral Gouvêa, filho do casal Cláudia (nossa filha) e Márcio Gouvêa (o marido
dela), que nasceu em 2010.
Em Santos, também, eu fiz uma das
minhas reportagens mais marcantes, relatando a palestra do General de Brigada
Nelson Santini Júnior, paulista de Campinas (1954-2015), que naquela data (20
de Outubro de 2009) estava há 30 anos no Exército Brasileiro e comandava a 1ª
Brigada de Artilharia Antiaérea, sediada no Forte dos Andradas, na Praia do
Monduba, no Guarujá, na margem esquerda do Porto de Santos.
Santini falou no auditório da
Codesp, a Companhia Docas do Estado de São Paulo, na região portuária de Santos.
Falou das 9h17 às 11h02 de uma manhã ensolarada e para um auditório totalmente
lotado, e atento.
Falou e disse:
- A área brasileira de Pré-Sal
só não colocará em funcionamento um plano de defesa antiaérea se não quiser.
Estrategicamente, Santini elogiou
o então presidente Lula e o ministro da Defesa, Nelson Jobim:
- Estamos caminhando em 5 anos
os 50 que caminhamos para trás.
Mas também não deixou de dar uma alfinetada
em ambos:
- O plano está pronto. Só
falta a vontade e a decisão políticas.
A vontade política, no caso, seria
necessária para decidir pela implantação do plano e fazer um investimento de
620 milhões de dólares exatamente na defesa antiaérea idealizada por Santini:
500 milhões de dólares na compra de 5 baterias antiaéreas de médio alcance; 60
milhões de dólares em 12 baterias de baixo alcance e 36 radares da marca Saber.
Com esse investimento, o
comandante da 1ª Brigada de Artilharia Antiaérea acreditava que o Brasil teria
logística para defender o Pré-Sal por dez anos, ou seja, até 2019.
Ao longo desse tempo, disse
Santini, será preciso fazer apenas a manutenção de homens, sistemas e
equipamentos.
Teremos, assim, uma área
protegida de 160 mil quilômetros quadrados – a área da Bacia de Santos –, ou
seja, 200 quilômetros de largura por 800 quilômetros de comprimento, de Santa
Catarina ao Espírito Santo.
Essa área incluiria, por exemplo,
os dois maiores poços de extração de petróleo da Bacia de Santos: Tupi e Iara.
O General Santini esperava ser
autorizado a instalar em cada plataforma, em Tupi e em Iara, quatro soldados
munidos de lançadores de mísseis.
O esquema se repetiria em cada
uma das 11 refinarias da Petrobras que na época estavam em funcionamento em
território nacional e onde também seriam implantados quatro soldados com
lançadores de mísseis e radares suficientes para cobrir 36 quilômetros
quadrados (de cada refinaria).
Usando como outro exemplo a
cidade de Santos, Santini garantiu ao público que foi ouvi-lo naquela manhã, na
sede administrativa do Porto de Santos, que seis soldados e as respectivas
baterias antiaéreas defenderiam o município.
Reconheceu que isso ainda não era
tudo o que o Brasil precisava e defendeu a necessidade de uma união:
- Sem as forças do Exército,
da Marinha, da Aeronáutica não faremos defesa antiaérea.
Nem assim, entretanto, as forças
armadas estariam completas, na opinião do General Santini:
- Precisamos sempre da Polícia
Militar, por exemplo, porque a PM tem efetivos treinados e armados para o
combate, como tem acontecido no Rio de Janeiro.
Santini usou o caso recente (naquela
data) do Rio de Janeiro, onde um helicóptero foi abatido por milícia de
traficantes, para mostrar o clima que imagina ser possível em torno do Pré-Sal.
Ele lembrou que o Brasil caminhava
firme para um lugar de destaque entre os maiores produtores de petróleo e gás
do mundo. Disse também que a água era cada vez mais escassa no nosso planeta. E
que, paralelamente, o governo brasileiro lutava por um posto definitivo no
Conselho de Segurança das Nações Unidas.
“Diante de tudo isso, alguém
acredita que o Brasil ficará livre de ataques terroristas internacionais?”,
indagou Santini.
E acrescentou:
- Por que ficaríamos, se todos
os países com lugares garantidos no Conselho de Segurança da ONU sofrem ataques
terroristas?
Antes mesmo que alguém dissesse
que 620 milhões de dólares era muito dinheiro e que o plano antiaéreo do
Pré-Sal não seria necessário, Santini se adiantou:
- Estou pedindo apenas 0,4% do
valor agregado dos dólares investidos na exploração do petróleo do Brasil e
cumprindo com a minha obrigação de comandante da Brigada Antiaérea: mostrar o
que é defesa antiaérea.
Usando uma frase de efeito que
tem repetido seguidamente entre amigos, Santini disse:
- Santos não será a primeira
área do Brasil a ser destruída; será a primeira a ser defendida.
E por fim lançou mão da Bíblia,
como também faz sempre que pode e bradou:
- Se você quer a paz, prepare-se para a guerra.
Em tempo: essa reportagem é um dos 73 textos incluídos nas 228 páginas do livro Meus Escritos de Memória.
(*) Cláudio Amaral é Jornalista desde 1º de Maio de 1968. Tem Mestrado em Jornalismo para Editores pela sucursal paulista da Universidade de Pamplona (Espanha) e Licenciatura em História pela FMU-SP. Foi Repórter do Estadão e Editor-Executivo d’A Tribuna de Santos. É autor de cinco livros, entre os quais O Cabo e o Jornalista (José Arnaldo 100 Anos) e Meus Escritos de Memória, ambos editados e comercializados pela Editora Patriani (www.editorapatriani.com.br).
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