Por que? (446) - Santos, Santos, Santos...

 

Santos é a mais importante cidade do Litoral Paulista e foi onde vivi por dois anos
(https://pt.wikipedia.org/wiki/Santos#/media/Ficheiro:Panoramica_Santos.jpg)

Cláudio Amaral (*)

            Eu era jovem, muito jovem, jovem meismo, quando fui a Santos pela primeira vez. Fomos eu e uma turma de adolescentes de Adamantina, minha cidade natal, que passava férias em São Paulo, Capital. Descemos a Serra do Mar e passamos um dia muito divertido nas praias da Capital da Baixada.

            Depois disso, voltei outras vezes a aquela agradável e aplausível cidade praiana. Na maioria das vezes a trabalho e a mando dos meus chefes no jornal O Estado de S. Paulo, que nos anos 1970 era o maior diário do País.

            Foi numa dessas idas a Santos que antecipei o fim da carreira de Pelé no Glorioso SantosFC. E, igualmente numa viagem a Santos, fiz uma reportagem especial a respeito da ideia dos dirigentes santistas de transformar o Parque Balneário em cassino, com o objetivo de tirar o bicampeão mundial da crise financeira. Deu página inteira no Estadão, graças ao capricho do Editor Clóvis Rossi.

            Desde então, nunca perdi uma oportunidade de ir a Santos.

Mas, a melhor de todas aconteceu a partir do dia 29 de Setembro de 2008. E foi graças ao convite do Amigo Wilson Marini, Jornalista como eu e a partir de então novo Editor-chefe do jornal A Tribuna de Santos (hoje Marini é gestor da Marini Soluções Editoriais: https://www.marinisolucoes.com.br).

Vivemos uma das melhores fases das nossas vidas, eu e a minha esposa Sueli Bravos, que acabamos de completar 75 anos de vida bem vivida e que fizemos questão de relatar e registrar na minha quinta obra literária: Meus Escritos de Memória, que saiu do papel e da tela do computador graças ao apoio do Amigo e Editor Adriano Patriani e da www.editorapatriani.com.br.

Ficamos a viver em Santos por quase dois anos, em 2008 e 2009. E só retornamos de vez para nossa residência e da Família, na Capital paulista, por conta de outros compromissos pessoais e profissionais.

Foi em Santos, por exemplo, naquela época, que a Sueli se descobriu uma profissional de Patchwork, mais conhecida como colcha de retalhos, mas que vai muito além disso. E foi assim que ela produziu integralmente o enxoval do nosso Pequeno Príncipe, o Murilo do Amaral Gouvêa, filho do casal Cláudia (nossa filha) e Márcio Gouvêa (o marido dela), que nasceu em 2010.

Em Santos, também, eu fiz uma das minhas reportagens mais marcantes, relatando a palestra do General de Brigada Nelson Santini Júnior, paulista de Campinas (1954-2015), que naquela data (20 de Outubro de 2009) estava há 30 anos no Exército Brasileiro e comandava a 1ª Brigada de Artilharia Antiaérea, sediada no Forte dos Andradas, na Praia do Monduba, no Guarujá, na margem esquerda do Porto de Santos.

Santini falou no auditório da Codesp, a Companhia Docas do Estado de São Paulo, na região portuária de Santos. Falou das 9h17 às 11h02 de uma manhã ensolarada e para um auditório totalmente lotado, e atento.

Falou e disse:

- A área brasileira de Pré-Sal só não colocará em funcionamento um plano de defesa antiaérea se não quiser.

Estrategicamente, Santini elogiou o então presidente Lula e o ministro da Defesa, Nelson Jobim:

- Estamos caminhando em 5 anos os 50 que caminhamos para trás.

Mas também não deixou de dar uma alfinetada em ambos:

- O plano está pronto. Só falta a vontade e a decisão políticas.

A vontade política, no caso, seria necessária para decidir pela implantação do plano e fazer um investimento de 620 milhões de dólares exatamente na defesa antiaérea idealizada por Santini: 500 milhões de dólares na compra de 5 baterias antiaéreas de médio alcance; 60 milhões de dólares em 12 baterias de baixo alcance e 36 radares da marca Saber.

Com esse investimento, o comandante da 1ª Brigada de Artilharia Antiaérea acreditava que o Brasil teria logística para defender o Pré-Sal por dez anos, ou seja, até 2019.

Ao longo desse tempo, disse Santini, será preciso fazer apenas a manutenção de homens, sistemas e equipamentos.

Teremos, assim, uma área protegida de 160 mil quilômetros quadrados – a área da Bacia de Santos –, ou seja, 200 quilômetros de largura por 800 quilômetros de comprimento, de Santa Catarina ao Espírito Santo.

Essa área incluiria, por exemplo, os dois maiores poços de extração de petróleo da Bacia de Santos: Tupi e Iara.

O General Santini esperava ser autorizado a instalar em cada plataforma, em Tupi e em Iara, quatro soldados munidos de lançadores de mísseis.

O esquema se repetiria em cada uma das 11 refinarias da Petrobras que na época estavam em funcionamento em território nacional e onde também seriam implantados quatro soldados com lançadores de mísseis e radares suficientes para cobrir 36 quilômetros quadrados (de cada refinaria).

Usando como outro exemplo a cidade de Santos, Santini garantiu ao público que foi ouvi-lo naquela manhã, na sede administrativa do Porto de Santos, que seis soldados e as respectivas baterias antiaéreas defenderiam o município.

Reconheceu que isso ainda não era tudo o que o Brasil precisava e defendeu a necessidade de uma união:

- Sem as forças do Exército, da Marinha, da Aeronáutica não faremos defesa antiaérea.

Nem assim, entretanto, as forças armadas estariam completas, na opinião do General Santini:

- Precisamos sempre da Polícia Militar, por exemplo, porque a PM tem efetivos treinados e armados para o combate, como tem acontecido no Rio de Janeiro.

Santini usou o caso recente (naquela data) do Rio de Janeiro, onde um helicóptero foi abatido por milícia de traficantes, para mostrar o clima que imagina ser possível em torno do Pré-Sal.

Ele lembrou que o Brasil caminhava firme para um lugar de destaque entre os maiores produtores de petróleo e gás do mundo. Disse também que a água era cada vez mais escassa no nosso planeta. E que, paralelamente, o governo brasileiro lutava por um posto definitivo no Conselho de Segurança das Nações Unidas.

“Diante de tudo isso, alguém acredita que o Brasil ficará livre de ataques terroristas internacionais?”, indagou Santini.

E acrescentou:

- Por que ficaríamos, se todos os países com lugares garantidos no Conselho de Segurança da ONU sofrem ataques terroristas?

Antes mesmo que alguém dissesse que 620 milhões de dólares era muito dinheiro e que o plano antiaéreo do Pré-Sal não seria necessário, Santini se adiantou:

- Estou pedindo apenas 0,4% do valor agregado dos dólares investidos na exploração do petróleo do Brasil e cumprindo com a minha obrigação de comandante da Brigada Antiaérea: mostrar o que é defesa antiaérea.

Usando uma frase de efeito que tem repetido seguidamente entre amigos, Santini disse:

- Santos não será a primeira área do Brasil a ser destruída; será a primeira a ser defendida.

E por fim lançou mão da Bíblia, como também faz sempre que pode e bradou:

- Se você quer a paz, prepare-se para a guerra.

Em tempo: essa reportagem é um dos 73 textos incluídos nas 228 páginas do livro Meus Escritos de Memória.

(*) Cláudio Amaral é Jornalista desde 1º de Maio de 1968. Tem Mestrado em Jornalismo para Editores pela sucursal paulista da Universidade de Pamplona (Espanha) e Licenciatura em História pela FMU-SP. Foi Repórter do Estadão e Editor-Executivo d’A Tribuna de Santos. É autor de cinco livros, entre os quais O Cabo e o Jornalista (José Arnaldo 100 Anos) e Meus Escritos de Memória, ambos editados e comercializados pela Editora Patriani (www.editorapatriani.com.br).

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