Por quê? (315) – Falta de espaço ou de sorte?



Cláudio Amaral

É liquído e certo de que todos nós gostaríamos de ter mais espaço. Mais espaço em casa, no escritório, nos cinemas, nos teatros, nas vias públicas (principalmente), nas salas de aulas, nos ônibus e nos trens (urbanos e interurbanos), nos aeroportos, nos portos, nos navios, nas rodoviárias e – claro, lógico e evidente – também nos aviões.

Acontece que espaço custa dinheiro. E muito dinheiro. Como tudo no mundo. Especialmente num mundo super populoso como este em que vivemos. Mais ainda nos dias atuais, em que tudo custa “os olhos da cara”, como por vezes escreveu o saudoso Jornalista José Arnaldo, titular da coluna “De Antena e Binóculo”, publicada por mais de 40 anos no diário Correio de Marília (SP).

Pois bem: em busca de mais espaço, para me exercitar, combater o excesso de peso, aliviar as altas tensões e a pressão arterial, assim como para respirar livremente, caminhei – ou seja, fui à pé – até o Sesc Vila Mariana, na Rua Pelotas, a cerca de 1.500 metros de onde vivo. Fui tanto na sexta-feira (data do aniversário de São Paulo, a maior e mais populosa cidade do Brasil e da América do Sul) quanto no sábado (26 de janeiro de 2013, dia que marcou a criação de Santos, a pujante Capital da Baixada, no Litoral paulista).

No Sesc, onde já fiz incontáveis atividades físicas e culturais, mas não ia há meses, aproveitei o feriado paulistano da sexta-feira para ler os meus jornais preferidos: os paulistas O Estado de S. Paulo (em cuja Redação trabalhei por quase cinco anos, em Marília, Campinas e São Paulo) e Folha de S. Paulo (na qual estive por quase três anos), o carioca O Globo (onde não tive o privilégio de atuar) e o espanhol El País (com sede em Madri e que lamentavelmente estava curtindo uma barrigada cometida na véspera em torno do “presidente” Chaves, da Venezuela).

Neste sábado, li primeiro a Folha e nela me deparei com uma divertida crônica do médico e escritor Drauzio Varella, famoso pelo livro Carandiru (que vendeu mais de meio milhão de exemplares), pelas atuações como voluntário em gigantescas prisões estaduais e por aparições no programa Fantástico da TV Globo. Ele descrevia detalhes de uma das milhares de viagens áreas que já fez pelo Brasil (*).

O tema era exatamente a nossa famosa falta de espaço e o fato dele, Dr. Drauzio Varella, ter a má sorte de se colocar invariavelmente em banco situado ao lado de gente com excesso de peso. No caso, um “passageiro de corpo avantajado, que me forçava a manter encolhidos o braço e o ombro”.

Terminada a leitura da crônica em questão, em que o autor lamentava jamais ter ao lado “uma mulher bonita e agradável”, peguei meus pertences (um celular e uma caixa na qual guardo meus óculos) e tomei o rumo do reservado masculino.

Fui e levei um susto ao abrir a porta do primeiro “WC” que encontrei. Eu não dispunha de uma trena para tirar as medidas exatas, mas garanto que o espaço em torno do vaso sanitário tinha no máximo um metro quadrado, de parede a parede. Se muito, um pouco mais. Tive, portanto, que fazer ginástica para utilizar o “aparelho” adequadamente. E, não por acaso, a caixa dos óculos caiu de um dos bolsos da calça exatamente dentro do vaso sanitário, onde, felizmente, a água estava limpa.

Tive que enfiar a mão direita na privada para pegar o objeto e, antes de fazer a limpeza com papel higiênico, agradeci mentamente ao faxineiro e ao usuário anterior por ter dado descarga após ter feito as respectivas necessidades fisiológicas. Caso contrário, eu teria amargado uma indesejável e fétida meleca, não só na caixinha quanto no distintivo do meu Corinthians que colei nela.

Ao sair do reservado masculino do Sesc eu parei e pensei: feliz do Dr. Drauzio Varella que sofreu apenas com a falta de espaço ao ocupar o banco do meio, no voo entre São Paulo e Manaus, ao lado do robusto passageiro que lhe fez companhia. Feliz e sortudo.

Por quê?

Ah... e você ainda pergunta por que, caro e-leitor?

(*) A aqueles e-leitores que desejarem ler a crônica de Drauzio Varella, aqui vai o linque: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/drauziovarella/1220567-espremido-no-aviao.shtml.

(*) Cláudio Amaral clamaral@uol.com.br é jornalista desde 1º de maio de 1968.

27/01/2013 20:55:11  (pelo horário de Verão em Brasília)

Comentários

Madalena A. Martinuzzo disse…
Pois é Claudinho. Acho que todos exageram um pouco nesta questão do espaço. Não precisaria ser tanto assim. Certa vez fui ver um apartamento (e não era pequeno), mas a área do chuveiro não dava para abrir os braços. Não sei porque! Aquela famosa justificativa: hoje as pessoas não precisam ficar muito dentro dos apartamentos.
Cláudio Amaral disse…
Em 2008, num hotel de Araraquara, pedi para mudar de apê logo que vi o tamanho do box reservado para o banho. Era tão pequeno, mas tão pequeno, que parecia ter sido feito para meu netinho de 3 aninhos.
Beijos. Saudades, Madá.

Postagens mais visitadas deste blog

Por quê? (111) Rumo a Adamantina

Por quê? (440) – A 15ª vez, uma das melhores viagens

Por quê? (299) Carteira de Habilitação Internacional