Por quê? (354) – Morreu de quê?
Cláudio
Amaral
Não sei. Sueli também não sabe.
E se alguém sabe, não apareceu para nos dizer do quê o pequeno e inofensivo ser
morreu.
Sabemos, sim, que ele morreu
na porta da nossa residência, aqui na Aclimação, em São Paulo.
Sueli, daqui do alto do nosso
escritório, foi a primeira pessoa que o viu morto.
A segunda (pessoa) fui eu, a
partir do portão, na manhã de sábado (23/1/2016), quando planejava retirar da
garagem o nosso Honda FIT vermelho (como uma Ferrari).
Imediatamente, abri o portão e fui
verificar, bem de perto, se ele estava, realmente, morto. E estava. Não respirava.
Não se mexia. Não tinha sinal algum de vida.
Pensei. Pensei. Pensei e
decidi dar um destino digno a aquele corpinho que já não se movia mais.
Entrei em casa, peguei um
esquife de papel e voltei à presença dele, com o maior respeito.
Recolhi o corpo – ainda com
respeito – e coloquei dentro do esquife. Eu e Deus. Ninguém mais viu, ao que eu
saiba.
Em seguida, depositei o corpo
e o esquife (ou seria o esquife com o corpinho dentro?) num lugar de destaque.
Estava tão chocado com o
acontecido que até desisti de abrir a garagem e de lá tirar o carro.
Entrei em casa e depois sai a
caminhar, sem o automóvel.
À noite chegou e com ela a escuridão.
E eu aqui preocupado com o destino daquele pequeno ser indefeso.
Olhei por vezes pela janela
sem saber o que deveria fazer. E nada fiz.
Na manhã deste domingo, ao
sair de casa para a Missa das 11 horas, na Paróquia Santa Rita de Cássia de
Vila Mariana, dei de cara com o mesmo corpinho.
- Meu Deus, pensei, alguém teve
a coragem de vasculhar o esquife e jogar o corpo do morto novamente na calçada
de minha casa. Quanta insensibilidade.
E lá fui eu, outra vez, mexer
com aquele pequeno ser imóvel. Peguei-o com todo respeito, coloquei novamente
dentro do mesmo esquife e, ainda não satisfeito, acondicionei num invólucro mais
adequado.
Mudei também o local em que o
havia depositado, de modo – creio – a dar mais dignidade ao morto.
E assim espero que ele tenha condições
de “voar mais alto, mais livre, rumo ao paraíso”.
Por quê?
Ah... e você ainda pergunta por que, caro e-leitor?
Ah... e você ainda pergunta por que, caro e-leitor?
(*) Cláudio Amaral (clamaral@uol.com.br) é jornalista desde 1º de maio de 1968, Mestre em Jornalismo para Editores pelo IICS/SP (Turma de 2003) e biógrafo pela FMU/História/SP (Turma de 2013/2015).
24/01/2016 18:59:14
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