Por quê? (420) Chorar, não! Assobiar, sim!

 

Cláudio Amaral

            Ela sempre foi uma menina feliz. Muito feliz. Feliz meismo.

            Feliz em casa. Feliz na escola. Feliz com as Amigas. E com os Amigos também.

Quem a via daquele jeito, dizia: Mas que criança mais feliz, mais alegre, mais divertida. Até parece que para ela tudo é felicidade.

Era, sim. Até porque ela desconhecia outro sentimento.

Tudo para ela era felicidade. Era alegria. Era divertimento.

Ela era tão feliz, irradiava tanta felicidade, que amava brincar com outras crianças. Depois, com o passar do tempo, com outras meninas, outras adolescentes.

Teve gente que chegou a perguntar: Cadê a tristeza dessa menina?

A verdade é que, para ela, a tristeza não existia. Só a alegria.

E tanta felicidade gerava outras coisas boas: Amizade, colaboração, gentileza, afetividade e, claro, Amor.

Até que chegou o dia em que ela conheceu outro tipo de Amor: o Amor por aquele que viria a ser o seu Grande Amor.

Namoraram, noivaram e, claro, lógico, evidente: se casaram.

Depois do casamento vieram os filhos.

Primeiro, uma menina, igualmente alegre e feliz, ainda que um pouco introvertida. E todos diziam: Também, com uma Mãe tão extrovertida, a pequena só pode ser intro.

Mas aí vieram outros filhos: um, dois, três.

Com o segundo faltou tempo para as brincadeiras alegres e divertidas. Sim, porque Deus, sem nem pedir licença, levou o pequeno para junto dele aos 11 dias.

Tristeza?

Qual nada. A tristeza durou pouco, porque logo ela ficou grávida novamente. E aí vieram mais dois. Dois pimpolhos, para alegria da Mãe e da irmãzinha, que os tratava como se bonecos fossem.

E a felicidade teve sequência e mais alegrias surgiram. Em casa, na escola, nas festinhas de aniversários, nos dias santificados.

Tudo era motivo para felicidade e alegria. Tudo era motivo para festa e diversão.

E o povo seguia perguntando: Cadê a tristeza? Essa mulher sabe, por acaso, o que é tristeza?

Sabia coisa alguma. Para ela e para os filhos tudo era sorriso, alegria, diversão.

Mas, um dia, um belo dia, ela conheceu a tristeza. E foi quando morreu...

Um parente?

Um amiguinho de um filho?

Uma vizinha?

Nada disso, interveio o marido, sempre atento a tudo e a todos, apesar de o negócio dele ser o trabalho, trabalho, trabalho.

Como trabalhava o cidadão.

Ele trabalhava todo dia. Era igual ao sogro e ao pai, ambos de saudosas memorias.

Trabalha inclusive aos sábados, domingos e feriados.

Teve ano em que ele trabalhou 50 dos 52 fins de semana.

Mas, voltando à intervenção do marido da menina, ou melhor, da mulher alegre e feliz: Ela ficou triste, muito triste, com a morte de uma tartaruga (ou seria um cágado, como ela preferia?) que as crianças haviam ganho do avô materno.

Ficou triste e... chorou.

Logo, entretanto, a tristeza passou. E ela tocou a vida em frente.

Voltou a se dedicar às alegrias com os filhos, que só cresciam e a ela davam mais e mais alegrias.

Alegrias vinham também dos amiguinhos dos filhos, dos filhos das amigas, dos sobrinhos, dos afilhados.

Em seguida as alegrias se multiplicaram com a chegada dos netos.

Primeiro chegou uma menina, filha da filha com um divertidíssimo cidadão fluminense, natural da Ilha de Paquetá.

Na sequência veio um netinho, da mesma origem.

Como terceiro netinho, ou melhor, netinha, chegou outra menina.

Ela foi fruto do Amor do último filho com uma jovem e divertida Psicóloga.

Daí foi felicidade e alegria em cima de alegria e felicidade.

Os aniversários, os batizados, os dias das crianças foram se sucedendo e alegrando a todos.

Ah! Em meio a tudo isso, um fato se destacou. Um fato que sempre existiu, mas raramente era notado pelo marido trabalhador: o ato de assobiar (que, acredite se quiser, é o mesmo que assoviar).

E lá foi o marido reclamar com a Psicanalista dele.

Foi certo de que ela daria razão a ele, o marido trabalhador.

Nananinanão!

Ao invés de razão, ela, a Psicanalista, deu-lhe foi um pito, um puxão de orelha, dizendo: Alegre-se você também. Afinal, se ela assobia é porque ela é feliz.

(*) Cláudio Amaral (clamaral@uol.com.bré Católico Apostólico Romano, Corinthiano e devoto de Santo Agostinho e Santa Rita de Cássia. É autor dos livros Um lenço, um folheto e a roupa do corpo (2016) Por quê? Crônicas de um questionador (2017). É Jornalista desde 01/05/1968, Mestre em Jornalismo para Editores pelo IICS/SP (2003) e Biógrafo pela FMU/Faculdade de História/SP (2013/2015).

26/10/2021 21:18:20 (pelo horário de Brasília)

Comentários

João Augusto disse…
A leveza da escrita do Claudio é inspiradora. Amei a crônica.

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