Por quê? (124) Entre livros












Cláudio Amaral

Se eu pudesse, pararia de trabalhar agora, não assumiria mais um único compromisso profissional e viveria só para a família e os livros.

Talvez, mais para os livros do que para a família. Afinal, todos os seres humanos que vivem à minha volta têm vida própria.

Sim, eles precisam de mim e eu deles. Mas, verdade seja dita, eles carecem cada vez menos de mim. Felizmente.

Tenho cada vez mais certeza de que eu seria mais feliz se pudesse me dedicar quase que em tempo integral aos livros.

Livros feitos de papel, é importante que se diga.

Senti isso intensamente durante as poucas horas que passei dentro da Livraria Cultura, no Conjunto Nacional, localizado na confluência da Avenida Paulista com a Alameda Santos e as ruas Augusta e Padre João Manuel.

Isso aconteceu na manhã de quarta-feira, 3 de setembro de 2008.

Sueli precisava fazer contatos no Consulado da Itália e eu fui com ela, porque estava de folga no trabalho.

Fui mas nem cheguei a entrar no prédio da representação diplomática italiana. Preferi ir aos livros na Cultura.

Só não passei o dia todo na mega livraria de Pedro Herz porque uma ligação telefônica da Sra. Olga me fez tomar o Metrô de volta para a Vila Mariana às 11h05.

Mas, valeu.

A paz dominou o meu ser enquanto eu estive entre milhares e milhares de livros em português, espanhol, inglês, alemão, francês e não sei quantos outros idiomas.

Senti vontade de comprar pelo menos cinco deles.

De cara, revi A Trajetória do ‘seu’ Frias (Rio de Janeiro, 5 de agosto de 1912 + São Paulo, 29 de abril de 2007), meu ex-patrão, escrita pelo jornalista Engel Paschoal; passei por obras inesquecíveis de Gabriel Garcia Marques, como Cien anõs de soledad, que li na época em que estudava espanhol no Colégio Miguel de Cervantes, no bairro do Morumbi, aqui em São Paulo; lembrei com tristeza de Sérgio Vieira de Mello (Rio de Janeiro, 15 de março de 1948 + Bagdá, 19 de Agosto de 2003), que, segundo a escritora norte-americana Samantha Power, foi um dos mais corajosos e carismáticos diplomatas dos nossos tempos; passeei com prazer por obras de Clarice Lipector (Chechelnyk, Ucrânia, 10 de dezembro de 1920 + Rio de Janeiro, 9 de dezembro de 1977).

Ao colocar os olhos sobre a biografia que Samantha Power escreveu a respeito de Sérgio Vieira de Mello, pensei em comprá-la porque desejo conhecer a fundo, tanto quanto possível, a vida e obra de um dos brasileiros mais conhecidos e elogiados nos meios políticos e diplomáticos em todo o mundo. E também porque um dos meus filhos é leitor incansável de biografias.

Mas, confesso, quem mais chamou a atenção foi Clarice Lispector (foto).

Folheei duas obras dela: Minhas queridas e Entrevistas.

A primeira eu conheço há meses e sempre me deixou curioso por se tratar de uma coleção de 120 cartas inéditas escritas por Clarice para as irmãs, Tania Kaufmann e Elisa Lispector, entre 1940 e 1957.

A respeito da segunda eu não tenho lembranças. Entrevistas me tocou de perto por se tratar de diálogos que a escritora e jornalista publicou entre maio de 1968 e outubro de 1969 na revista Manchete e em fins de 1976 em Fatos e Fotos - Gente. Entre os interlocutores dela figuram Chico Buarque de Holanda, Vinicius de Moraes, Nelson Rodrigues, Oscar Niemeyer e Ferreira Gullar.

Quero ler uma a uma. Tanto as cartas publicadas em Minhas queridas, quanto as Entrevistas.

Para isso, entretanto, vou ter que voltar à Livraria Cultura, porque, infelizmente, sai de lá às pressas, na manhã de quarta-feira, sem ter comprado um único livro.

Por quê?

Ah... e você ainda pergunta por que, caro e-leitor?

4/9/2008 13:09:05

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