Por quê? (208) Adeus, Padre Gaspar

Cláudio Amaral
 

A ultima vez que me encontrei com ele foi justamente na esquina das ruas Carlos Petit com Vergueiro, ao pé da famosa caixa d’água, na Vila Mariana. 

Eu estava visitando um colega corretor de imóveis e ele passava pelo local, que era o plantão de vendas do Edifício UP e hoje funciona a pleno vapor.

Na época, Padre Gaspar Blanco Ramos estava numa espécie de exilo em Ponta Grossa, no Paraná. 

Não estava satisfeito, com certeza. 

Ou já estava afetado pela doença? 

Deveria estar doente, porque na missa de 7º dia de ontem (17/9/2010), desde o púlpito da Paróquia de Santa Rita de Cássia, o atual pároco, Padre Miguel Lucas, disse que Padre Gaspar carregou a cruz da doença por dois anos. 

Ambos, segundo Padre Lucas, moraram juntos por 33 anos. 

Coincidência ou não, essa foi exatamente a idade de Cristo. 

Aos olhos do seu rebanho, Padre Gaspar não era dos mais simpáticos. 

Mas, os depoimentos que se seguiram após a celebração da missa de sexta-feira, levaram muita gente às lágrimas. E às palmas, também. Padre Gaspar nascera numa pequena aldeia espanhola em 30/7/1941. 

Talvez tenha entrado para o seminário porque os pais não reuniam condições de lhe custear os estudos, como tem acontecido com muitos sacerdotes. 

Padre Lucas, entretanto, acredita que o importante é a vocação que Padre Gaspar tinha. E sempre teve. Tanto que aos 12 anos ele se decidiu pela vida sacerdotal. 

Foram mais de 40 anos de vocação por terras brasileiras, em São José do Rio Preto (SP), São Paulo (onde faleceu no dia 10/9/2010) e por último em Ponta Grossa (PR). 

Ao longo desse tempo todo ele foi pároco por duas vezes na nossa Paróquia de Santa Rita de Cássia, onde administrava tudo com mãos de ferro. 

Tinha, ao mesmo tempo, o dom de impor as mãos e com isso ser o condutor de milagres, que sempre dizia ser feito por Deus e Nosso Senhor Jesus Cristo. 

Uniu casais, construiu obras sociais para creches e escolas profissionalizantes e viveu sempre – como disse Padre Lucas no sermão de sexta-feira à noite, na Paróquia de Santa Rita – “o que Santo Agostinho dizia sobre a necessidade de ajudar os pobres”. 

Padre Gaspar chamava a atenção de todos integrantes do seu rebanho pela facilidade com que cantava os versos bíblicos. E na sexta-feira nós todos que lotamos a Santa Rita ficamos sabendo a razão ou pelo menos uma das muitas razões: ele cultuava a música desde que havia se conhecido por gente.

Tanto que a missa em sua homenagem, Padre Gaspar, foi encerrada com a execução de sua canção preferida, enviada pela família desde a Espanha: 

Escucha hermano lá canción de lá alegria el canto alegre del que espera um nuevo dia ven canta, sueña cantando vive soñando el nuevo sol en que los hombres volverán a ser hermanos, ven canta, sueña cantando vive soñando el nuevo sol en que los hombres volverán a ser hermanos. Si en tu camino sólo existe la tristeza y el llanto amargo de la soledad completa ven canta, sueña cantando vive soñando el nuevo sol en que los hombres volverán a ser hermanos. Si es que nos encuentras la alegria en esta tierra buscala hermano más alla de las estrellas ven canta, sueña cantando vive soñando el nuevo sol en que los hombres volverán a ser hermanos. 

Por quê? Ah... e você ainda pergunta por que, caro e-leitor? 

(*) Cláudio Amaral clamaral@uol.com.br é Jornalista desde 1º de maio de 1968. 

18/9/2010 14:34:31 (atualizado em 26/9/2010 21:31:52 e em 30/07/2020 às 10h09)

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