Por quê? (311) – SÃO PAULO EM 2040
Cláudio
Amaral
Na sala, a televisão deu a
notícia e ela, na cozinha, desdenhou. Também na cozinha, ele fez cara de sério,
como quase sempre. O casal era assim: ela duvidava de tudo e ele acreditava em
quase tudo. Ela nunca acreditara nas promessas do PT e saia logo criticando. Ele
tinha por princípio acreditar para depois criticar ou aplaudir, conforme o
caso.
Eles sempre votaram na
oposição situada mais ao centro. Primeiro, no MDB, o Movimento Democrático
Brasileiro de Ulisses Guimarães, Tacredo Neves, Franco Montoro, Mário Covas, Fernando
Henrique Cardoso. Depois, no PMDB. E nos últimos tempos no PSDB, o Partido da
Social Democracia Brasileira, desde que Montoro, Covas e FHC resolveram romper
com os antigos parceiros, deixando de lado e à própria sorte gente como Orestes
Quércia, Michel Temer e outros.
Nas últimas eleições
municipais, aquelas que elegeram prefeito um filiado ao PT e derrotaram o
candidato do PSDB, eles ainda votaram no mesmo concorrente, José Serra. Mas
para ele tudo indica que foi a última vez.
Ela já havia se revoltado com
o apoio que o ex-presidente Lula e a atual presidente Dilma Roussef deram a Fernando
Haddad desde a escolha do ex-ministro da Educação para concorrer a prefeito de
São Paulo. Ficou mais revoltada ainda quando a eleição se consumou. Não se
conforma até hoje com o fato de o povo paulistano ter elegido um candidato do
Partido dos Trabalhadores.
Ele, não. Como há tempos
deixou de acreditar em Serra, saiu dizendo que foi melhor assim. E disse mais:
que a população da Capital paulista só vai ter a ganhar com a escolha de um
político jovem, cheio de garra e vontade de acertar.
Agora, então, que ele ouviu
que a Prefeitura de São Paulo está planejando a cidade para 2040, ficou mais
otimista ainda. Mesmo sabendo que daqui a 28 anos estará com 90 anos, se vivo
estiver.
Ele sempre defendeu a tese de
que cada cidade deveria ter uma “Comissão do Futuro”. Ou seja, uma equipe
dedicada exclusivamente a pensar na cidade que nossos moradores – crianças,
jovens, adultos e idosos – terão daqui a pelo menos dez anos.
Vinte anos? Vinte e oito anos?
Melhor ainda. E se possível for, essa comissão que agora se anuncia deve se
dedicar a pensar, ao mesmo tempo, na São Paulo de 2050.
Só assim, na opinião dele,
será possível deixar para os netos de todos nós – Beatriz e Murilo, inclusive, que estão
com 5 para 6 e com 2 para 3 anos – uma cidade menos desumana, menos insegura,
menos selvagem, menos suja, menos poluída, menos congestionada, menos
individualista, menos indisciplinada.
É nisso que ele
acredita. E ela também, com absoluta certeza.
Por quê?
Ah... e você ainda pergunta por que, caro e-leitor?
Ah... e você ainda pergunta por que, caro e-leitor?
19/11/2012 15:45:23 (horário de Brasília)
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