Por quê? (333) – Professor Lapa, Historiador



Cláudio Amaral

Depois que passamos de 40 anos de vida profissional e estamos prestes a completar 64 anos bem vividos, nossas lembranças são tantas que se torna difícil agradecer a todos aqueles que um dia nos ajudaram a subir um único degrau que seja.

Comecei a trabalhar com seis anos de idade e passei a exercer a profissão de Jornalista no dia 1º. de maio de 1968, graças a boa-vontade de Hirigino Camargo, diretor responsável pelo Jornal do Comércio de Marília (SP) e meu primeiro Mestre.

Em seguida, e também por obra dele, fui proposto e aceito como correspondente do Estadão na Cidade Símbolo de Amor e Liberdade (Marília, claro). E foi lá, igualmente, que vim a conhecer um jovem professor e historiador em começo de carreira.

Lembro-me até hoje, 43 anos passados, da aventura que foi entrevistar José Roberto do Amaral Lapa, que em 1970 estava ligado à Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Marília.

O Professor Lapa, como era chamado por todos – entre alunos, amigos, funcionários e outros professores da FFCL-M – era o coordenador de um seminário sobre História. E lá fui eu, num prédio amplo e bem reformado, que ficava logo após o Yara Clube de Marília.

Conversamos por horas, numa tarde de um dia qualquer de meio de semana. Voltei para a redação, apressado e preocupado com o encerramento da edição do dia seguinte do JC, que Mestre Irigino sempre deixava nas minhas mãos, apesar da pouca experiência (mal sabia eu que, antes de a máquina plana ser posta para rodar os exemplares do dia seguinte, ele, o chefe, lia cada linha de cada notícia).

Encerrada a edição do único diário mariliense que circulava em duas cores (preto e vermelho sobre o papel branco/amarelado), minha missão era produzir e transmitir meus textos para o Estadão, onde outro Mestre, Eduardo Martins, Editor de Interior, esperava pelas minhas reportagens previamente pautadas até 22 horas.

Escrevi bastante naquele dia. Ou pelo menos mais do que o normal. Peguei o telefone, pedi para a telefonista Roseli (amiga de longa data da minha então namorada) que me ligasse para o 256-3133 em São Paulo, chamei pelo Geraldo, um dos mais rápidos datilógrafos das cabines, e ditei palavra por palavra, vírgula por vírgula, pontos e parágrafos. Eu ditava e ele dizia: “Mais rápido, mais rápido…”.

Anos depois, quando eu já havia sido transferido para a sede, em São Paulo, com breve passagem por Campinas, voltei a me encontrar com o Professor Amaral Lapa na sede do Estadão. Entre apertos de mãos e abraços saudosos, levei-o até a Redação do 5º. andar da Rua Major Quedinho, 28, no centro da Capital paulista. E lá o apresentei a Eduardo Martins. Disse que aquele era o Professor de História que entrevistei em Marília e, depois dos detalhes que achei necessários, Edu, então meu Chefe de Reportagem falou:

- Por causa de vocês dois eu levei uma bronca sem tamanho do Dr. Julinho (Júlio de Mesquita Neto) no mesmo dia em que a reportagem foi publicada. E o tempo só não fechou para o meu lado porque você, Cláudio, tinha detalhado a pauta que me mandou na véspera (via Raul Martins Bastos, o chefe dos correspondentes). Só assim consegui convencer o nosso Diretor Responsável que o Professor Amaral Lapa era um historiador de renome e que estava em Marília de passagem.

Demos muitas risadas e o Professor se foi. E foi para sempre. Jamais voltei a vê-lo. E só fui ter lembranças dele, concretamente, neste ano, quando ingressei no curso de Licenciatura em História na FMU. Isto porque o nome dele sempre aparecia nas citações bibliográficas de uma ou outra apostila preparada pelos meus mestres de agora.

No dia 22/10/2013, terça-feira desta semana, depois de muitas ameaças, entrei no Google e digitei: Amaral Lapa. E logo veio um número infindável de arquivos. Entrei num dos sites recomendados (http://pro-memoria-de-campinas-sp.blogspot.com.br/2009/06/efemeride-jose-roberto-do-amaral-lapa.html) e dei de cara com recortes de notícias a respeito dele. Todas do Correio Popular e do Diário do Povo de Campinas, edições do ano 2000. E só assim tive um novo contato com o Professor Lapa. E só então fiquei sabendo que ele se foi – e desta vez para sempre – no dia 19/6/2000.

Amaral Lapa estava aposentado como Professor da Unicamp, a Universidade Estadual de Campinas. Pelo que lá está escrito, ele foi de uma vez, de infarto, aos 70 anos. E mais: foi velado e sepultado em meio a muito carinho, respeito e admiração de alunos, orientandos, professores e familiares.

Embora triste, agradecido estou – e sempre estarei – ao Professor José Roberto do Amaral Lapa. Professor e Historiador, como eu pretendo ser daqui a alguns poucos anos de FMU.

Por quê?

Ah... e você ainda pergunta por que, caro e-leitor?

(*) Cláudio Amaral clamaral@uol.com.br é jornalista desde 1º de maio de 1968 e estudante de História na FMU/Liberdade/SP desde 1º. de fevereiro de 2013.


23/10/2013 19:15:49 (pelo horário de Verão no Brasil)

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