Por quê? (356) – O Esquife do Caudilho


Cláudio Amaral

É difícil, quase impossível, encontrar palavras para analisar o livro de Daniel Pereira. Tudo o que eu queria dizer foi dito pelos Jornalistas Joaquim Maria Botelho (autor da apresentação, nas páginas 9 a 12) e Gabriel Emídio (nas orelhas).

Para Botelho, é “coisa de memorialista, este livro. E dos bons”. Para Emídio, que, além de escrever o texto das orelhas, fez a revisão da obra, “bem mais que alusão à morte de Getúlio Vargas, o título instiga e chama para dentro do livro”.

O lançamento foi no dia 14/12/2015, no Memorial da América Latina, em São Paulo, mas demorei exatos 70 dias para começar a ler O Esquife do Caudilho.

Nesse tempo, a obra, editada pela Pasavento, esteve nas mãos de Mauro Amaral (meu filho do meio) e de Sueli Bravos do Amaral (minha namorada desde 1969). Ambos falaram muito bem das 51 crônicas de Daniel Pereira e acrescentaram: ele cita você em pelo menos três delas.

Claro que isso aumentou minha vontade de ler as tão esperadas memórias de um dos meus três melhores Amigos, entre os muitos Jornalistas que conheço. Mesmo assim, só peguei nelas no dia 24/2/2016, aqui em Ashburn, Virgínia, na Costa Leste dos EUA.

Antes, me distrai com a conclusão da leitura de O nome de Deus é Misericórdia – uma conversa (do Papa Francisco) com Andrea Tornielli e um certo capitão rodrigo, de Erico Verissimo.

Por que tanto enrolação (?), me perguntei um dia desses. E eu mesmo me respondi: Sabe que não sei. Uma explicação deve haver, mas deve estar oculta, a ser descoberta.

Ciúme, talvez? Inveja, quem sabe? Pode ser, admito. Afinal, tenho pelo menos cinco livros escritos e nenhum publicado. Mas saio em minha defesa argumentando: Daniel Pereira é mais rodado do que eu; tinha que sair na minha frente com suas memórias.

Quem nos conhece – a Daniel Pereira e a mim – sabe que trabalhamos juntos por anos, muitos anos. Dividimos inúmeras empreitadas na COMUNIC Comunicadores Associados S/C Ltda.,  empresa que criei e registrei dia 21/8/1978. E sempre fomos vitoriosos, como está nas páginas 57, 154 (duas vezes) e 212.

Trabalhos, citações e amizade à parte, o fato é que as memórias de Daniel Pereira têm muito a ver com a minha trajetória: somos caipiras do Interior paulista (ele de Assis, eu de Adamantina), nascemos pobres, vencemos pelas nossas próprias forças e muita determinação, trabalhamos nas mesmas ocasiões em três empresas (no Grupo Estadão, na COMUNIC e na Imprensa Oficial do Estado de São Paulo), tivemos muitos Amigos em comum (Joaquim Maria Botelho, Guilherme Degani, Sircarlos Parra Cruz, Zé Cabrera, Gabriel Emídio, Osmar Santos, Luiz Carlos Sperandio, Orlando Duarte, Eli Coimbra, Divaldo Zogaib de Mello – o Turco, Alaor Martins, Geraldo Fernandes, Raul Martins Bastos, José Aparecido Miguel e Claudemir Strabelli, pai da Francine e do Bruno, que seguem vivendo na nossa Adamantina), fomos boias frias e engraxates, fizemos pontas em circos, somos apaixonados pelo veículo rádio e somos torcedores do mesmo TIMÃO.

Lendo, avidamente, O Esquife do Caudilho vi que não fui o único a sentir a morte de perto (página 95), lembrei-me do meu pai (Lázaro Alves do Amaral, o Lazinho) e do meu sogro (José Padilla Bravos, o Jornalista José Arnaldo, que integrou a FEB e como tal foi combatente na Segunda Guerra Mundial e participou da tomada de Monte Castelo, na Itália, tal qual o marido da viúva da página 51).

Outras coincidências: também frequentei a discoteca de uma emissora de rádio (a Brasil de Adamantina), onde eu e meus Amigos nos trancávamos para escutar a música em que Geraldo Vandré cantava, num Maracanãzinho lotado: Caminhando e cantando/E seguindo a canção/Somos todos iguais/Braços dados ou não... (página 69).

Nem por isso somos iguais em tudo. Ao contrário de DP, um descrente confesso nas coisas de religião, sou Católico Apostólico Romano praticante e como tal voluntário na Paróquia Santa Rita de Cássia de Vila Mariana, em São Paulo. Outras diferenças: nunca fumei. Beber, sim. Já bebi muita cerveja, mas nunca tanto quando ele; e, há pelo menos cinco anos, quando bebo, só sem álcool.

Para arrematar, porque esta análise está passando dos limites, quero deixar claro que O Esquife do Caudilho revelou-me um outro lado deste meu Amigo: não sei se teria a coragem que ele teve de contar tudo o que contou a respeito da vida pessoal dele e dos pais.

Por quê?

Ah... e você ainda pergunta por que, caro e-leitor?

(*) Cláudio Amaral (clamaral@uol.com.br) é jornalista desde 1º de maio de 1968, Mestre em Jornalismo para Editores pelo IICS/SP (Turma de 2003) e Biógrafo pela FMU/Faculdade de História/SP (Turma de 2013/2015).

25/02/2016 21:31:15 (pelo horário de Inverno da Costa Leste dos EUA, onde estamos duas horas antes do horário de Brasília)

Comentários

Daniel Pereira disse…
Amigo Cláudio Amaral, líder da torcida do Corinthians em Cinza Queimada (redundante isso,. não?): uma das tuas muitas virtudes é a sinceridade. Tenho uma só observação em torno da tua análise: fora eu talvez um budista, te diria para não acreditar em tudo o que vê ou lê. Mas, se depois de muito observar, chegar à conclusão de que há alguma coerência naquilo que leu, e com isso concordar,então, aceite e viva sem trauma. Forte abraço, extensivo à "dona da pensão" e toda a trupe.
Daniel Pereira disse…

Amigo Cláudio Amaral, líder da torcida do Corinthians em Cinza Queimada (redundante isso,. não?): uma das tuas muitas virtudes é a sinceridade. Tenho uma só observação em torno da tua análise: fora eu talvez um budista, te diria para não acreditar em tudo o que vê ou lê. Mas, se depois de muito observar, chegar à conclusão de que há alguma coerência naquilo que leu, e com isso concordar,então, aceite e viva sem trauma. Forte abraço, extensivo à "dona da pensão" e toda a trupe.

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