Por quê? (372) – Leiam e rabisquem


Cláudio Amaral

Tenho uma divergência radical com um dos meus filhos em matéria de livros: quando o exemplar é meu, leio sempre com uma caneta na mão direita. Leio e rabisco à minha vontade. Ele, não. Ele – um dos dois filhos homens que Sueli me deu – jamais fez isso e vive a me condenar por esse meu costume.

Eu já era assim antes de entrar para o curso de Licenciatura em História da FMU, em fevereiro de 2013. E lá aprendi que era necessário ler e rabiscar tudo, para depois elaborar os trabalhos que nos eram solicitados pelos nossos professores.

Mas por que eu resolvi interromper a leitura que estava fazendo nesta tarde calorenta de um dos últimos dias de 2016 e aqui estou a escrever essas bem traçadas linhas?

Simplesmente porque me lembrei dessa minha característica enquanto lia – e rabiscava com caneta vermelha – o livro do Professor Rafael Ruiz: literatura e crise – Uma barca no meio do oceano (São Paulo: Cultor de Livros, 2015).

Ruiz foi meu Professor de Literatura no IICS, o Instituto Internacional de Ciências Sociais, onde fiz o curso de Mestre em Jornalismo para Editores – Turma 2003. E desde então eu o acompanho de perto, tamanha é admiração que tenho por ele. E, claro, fui à noite de autógrafo em que Rafael Ruiz lançou este novo livro, no dia 22/9/2015.

Desde então tenho tentado ler literatura e crise – Uma barca no meio do oceano. Só agora, entretanto, arrumei tempo para praticar um dos meus “esportes” preferidos: a leitura, que, aliás, me acompanha desde quando aprendi a ler, aos cinco anos de idade.

E no final da tarde desta quarta-feira (28/12/2016), quando estava lendo – e rabiscando – o segundo parágrafo da página 55, lembrei-me de algo muito importante (para mim, pelo menos): é assim que gosto que façam os meus leitores. Especialmente aqueles que se deram ao trabalho de comprar o meu primeiro romance, lançado no dia 3/12: Um lenço, um folheto e a roupa do corpo (São Paulo: PerSe, 2016).

A maioria dos professores que tive ao longo do meu terceiro curso superior (FMU, 2013/2015) também faz assim, ou seja, rabiscam tudo o que leem. E quando perguntei a eles a razão disso, todos me disseram que assim fica fácil para explicar e ou pesquisar e ou escrever posteriormente, seja um artigo ou um trabalho.

Uma única exceção entre todos eles é André Oliva Teixeira Mendes, que nos ensinou História da Antiguidade Oriental no primeiro semestre, Historiografia no segundo, História da Arte no terceiro e Historiografia Brasileira no quinto.

Um dos mais competentes professores de História que conheço, André Oliva Teixeira Mendes trata os livros com o maior cuidado. Sejam os próprios, sejam os de terceiros. Para ele, livro não se risca, não se rabisca e nem se abre de tal maneira que venha a deformá-lo.

Os meus, não. Os meus – e refiro-me aos “meus” porque ainda pretendo publicar muitos – quero que sejam lidos e rabiscados. Muito lidos e muito rabiscados. A começar de Um lenço, um folheto e a roupa do corpo.

Por quê?

Ah... e você ainda pergunta por que, caro e-leitor?

(*) Cláudio Amaral (clamaral@uol.com.br) é jornalista desde 1º de maio de 1968, Mestre em Jornalismo para Editores pelo IICS/SP (Turma de 2003) e Biógrafo pela FMU/Faculdade de História/SP (Turma de 2013/2015).


28/12/2016 19:34:13  (pelo horário de Verão de Brasília)

Comentários

Gustavo Araujo disse…
Uma das poucas vantagens dos ebooks é permitir a adição de notas e destaques sem macular o texto. Parabéns pela crônica. Também tento não rabiscar os livros de papel, mas às vezes não dá para evitar.
Unknown disse…
Confesso que tenho muuito ciúmes dos livros da minha estante e não rabisco de jeito nenhum rsrs Só abro exceção para os livros de escrita criativa, esses sim são grifados do começo ao fim.

Sucesso com seu livro, Cláudio!
Meu querido Claudio. No momento da leitura, a frase, o parágrafo, nos inspiram ideias que estavam embutidas ou vagando por algum lugar deste imenso cosmos e, assim, rabiscando, fazendo anotações nas margens dos textos, ou mesmo grifando com a famosa canetinha destaque em amarelo, mantemos o vínculo com aquela ideia que poderia ser passageira, mas que agora está presa nas páginas.
Concordo com você. Desejo feliz ano novo e felizes novas obras.

Ivan Evangelista / Marília - SP

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