Por quê? (442) – Saudade



Cláudio Amaral

Eu tenho saudade.

E você?

Eu tenho saudade dos meus tempos de menino pequeno em Adamantina.

Tenho saudade dos meus bons tempos de garoto em Marília.

Também tenho saudade da minha meninice em São Paulo.

E me recordo com saudade da minha criancice quando da minha volta a Adamantina.

E você?

Eu tenho saudade dos tempos em que nem sabia o que era responsabilidade.

Sim, porque a responsabilidade era toda dos meus pais.

Era deles a responsabilidade de me alimentar, de me trocar e me manter limpo e saudável.

Deles era também a responsabilidade de me educar, de me ensinar o que era certo, de me mandar para a escola e de me apresentar ao meu primeiro livro, a Cartilha Caminho Suave, de Branca Alves de Lima.

E você? Você também tem saudade dos tempos de infância?

Eu tenho saudade dos meus bons tempos de curso primário, ou seja, do primeiro ao quarto anos do grupo escolar.

E você?

Eu tinha pouco mais de seis anos quando fui matriculado numa escola pública do bairro chamado Moinho Velho, aqui na Capital paulista.

Foi lá que eu fiz os primeiros anos de estudo, até que meus pais decidiram voltar para Adamantina, no Interior do Estado.

Fui, então, matriculado no Segundo Grupo (foto) e, por ter sido muito bem acolhido pelos novos colegas, funcionários e Professores, logo me esqueci dos antigos, que ficaram em São Paulo.

Logo me distraí com uma nova atração: a Cartilha Caminho Suave, que eu ainda não conhecia e da qual nunca mais me separaria.

E você? Você também tem saudade dos seus primeiros anos de escola e do primeiro livro escolar?

Eu tenho saudade, muita, de um dos meus melhores Amigos de infância.

E você, caro e-leitor, tem saudade de um inesquecível Amigo dos seus primeiros anos de vida?

Ele era negro como um carvão.

Gente boa a mais não poder.

Morava ao lado do Estádio Municipal Antônio Goulart Marmo, onde os times de futebol de Adamantina treinavam e jogavam toda semana.

O pai dele trabalhava na equipe de administração daquela praça esportiva, mas ele foi trabalhar comigo, a pedido do meu pai, na Lavanderia e Chapelaria Adamantina.

Ficamos Amigos de imediato.

Ele dividia comigo todas as tarefas do cotidiano e não havia diferença entre nós.

Nada disso de filho do patrão e do empregado. Éramos iguais em tudo.

Até que um dia, sem mais nem menos, ele chegou para nós e disse: “Vou embora para São Paulo”.

E de Adamantina se foi para nunca mais voltar.

Nem notícia dele nós tivemos.

E desde então eu pergunto: cadê você Amigo Domingos Baptista Andrade? Onde você foi parar, Amigo Minguinho?

E você? Você também tem saudade de algum Amigo de infância?

Eu tenho saudade dos meus sonhos de criança pequena lá em Adamantina.

E você?

Qual era o tipo de sonho que você tinha quando criança?

Entre os sonhos de criança que eu tinha estava um especial: eu sonhava em montar e gerenciar uma fábrica de picolés.

Imaginava, na minha santa ignorância, que me seria possível abrir uma fábrica de picolés e com ela produzir, produzir e produzir muitos picolés.

Inicialmente, eu trabalharia sozinho. Eu seria o fabricante e o vendedor.

Só depois, à medida que o negócio fosse crescendo, eu teria um, depois dois e mais ajudantes.

Mas, esse sonho nunca passou de um sonho de criança.

E na minha infância ele ficou. Como ficaram muitos outros sonhos.

Hoje, 70 anos depois, eu olho para trás e vejo que foi melhor assim.

Sim, porque outros tantos sonhos eu consegui realizar e neles me realizar.

E você? Você conseguiu realizar sonhos e mais sonhos de criança?

Quando me preparo para mais uma viagem de ônibus, lembro-me com saudade das minhas muitas saídas de casa para outras cidades, no Estado de São Paulo e ou no Brasil.

E você? Você também já viajou muito por esse Brasil afora?

Dessa vez recordo da viagem que fiz de Adamantina para a pequena e vizinha Mariápolis.

Eu estava na minha primeira experiência como locutor de rádio.

Meu saudoso pai havia me arrumado para fazer uma incursão na Rádio Brasil, a única emissora da nossa querida Adamantina.

O acerto do meu pai foi com o gerente Fauser Santos (falecido em Cuiabá em 2001).

Mas, o que eu não sabia era que os aprendizes, como eu, tinham obrigação de fazer incursões por outras áreas da emissora.

E eis que se não quando a secretária da Diretoria me chamou e ordenou que eu fosse fazer uma cobrança na tesouraria da Prefeitura Municipal de Mariápolis.

Por quê? Porque na cidade vizinha não havia emissora, nem mesmo serviço de autofalantes, e por isso o prefeito mandara fazer um comunicado de utilidade pública na rádio mais próxima.

Contrariado, é claro, até porque eu estava ali para falar ao microfone e não para serviços burocráticos, tomei o primeiro ônibus e me apresentei no caixa do órgão que devia para a Rádio Brasil, peguei o cheque e dei meia volta.

Felizmente, nenhuma outra experiência do tipo eu tive enquanto lá trabalhei.

Muitas outras viagens, entretanto, eu fiz nesses meus mais de 74 anos de vida.

E você, caro e-leitor, fez alguma viagem do gênero? Do gênero que te deu experiência, mas não deixou saudade?

Minha recente viagem a Assis, no Interior paulista, me levou de volta à minha infância.

E dessa vez não foi à minha infância em Adamantina, onde eu nasci há 74 anos.

Foi à infância que vivi aqui em São Paulo, antes de voltar à cidade natal.

Vivíamos os últimos anos do decênio 1950 e eu morava no Sacomã.

E foi lá, em 1958, que eu acompanhei os jogos da histórica e inesquecível Copa do Mundo de Futebol vencida pelo Brasil.

Nos dias em que eu não tinha aula na escola estadual do Moinho Velho, fazia bicos para ganhar uns trocados e ajudar nas despesas da casa.

Naquela época ninguém se importava com o trabalho dos moleques, como eu, que ainda estavam por chegar aos 14 anos.

Eu tinha menos de dez anos de idade e, entre outras atividades, ajudava um adulto do mesmo bairro a vender raspadinha.

Eu ralava uma barra de gelo, colocava a raspa num copo e acrescentava o líquido da preferência do freguês: groselha, por exemplo.

E foi uma barraca de raspadinha, como a da foto abaixo, que cliquei em Assis, que me levou a relembrar aqueles bons tempos.



E você, caro e-leitor, já vendeu raspadinha como eu?

Você também costumava levar uns trocos para casa e assim ajudar nas despesas que sua Mãe tinha todo dia?

(*) Cláudio Amaral (claudioamaral49@gmail.comé Católico. Patriota. Anticomunista. Autor do livro-biografia O Cabo e o Jornalista (José Arnaldo 100 Anos). Jornalista desde 01/05/1968. Mestre em Jornalismo para Editores pelo IICS/SP (2003). Biógrafo pela FMU/Faculdade de História/SP (2013/2015).

27/04/2024 18:11:10 (pelo horário de Brasília)

 

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