Por quê? (102) Uma esquina inesquecível



Cláudio Amaral

Ela não é uma mulher, mas é linda.

Ela não é a minha mulher, mas é amada.

Ela não é um ser humano, mas tem vida.

Ela não é um Amigo, nem uma Amiga, mas me trata bem, muito bem.

Ela não é um lugar histórico, mas, acreditem, tem história.

Ela não me dá carinho, mas eu a trato com carinho, respeito e boa vontade.

Ela não é monumental, mas eu a vejo como um monumento.

Ela não tem como se lembrar de mim, mas para mim ela é inesquecível. É e sempre será.

Por quê?

Porque na esquina onde estou nesta manhã ensolarada, e ao mesmo tempo fria do inverso paulistano, eu vejo o tempo passar há mais de oito meses, quase nove.

Todo fim de semana eu aqui estou.

Às vezes, nos feriados, também.

Aqui, nesta esquina, eu trabalho, leio, escrevo, como, bebo, ouço notícias e músicas no meu radinho de pilhas, falo ao telefone celular, recebo Amigos e, principalmente, pessoas com quem eu nunca havia falado antes.

Aqui, nesta esquina, eu constato o quanto os motoristas são irresponsáveis, mal educados, desconhecem e desrespeitam as leis de trânsito e outros condutores de veículos e nossos semelhantes que andam a pé.

Aqui, nesta esquina, eu passo momentos alegres.

Aqui, nesta esquina, eu sinto tristezas, mas, ao mesmo tempo, eu sorrio, eu gargalho, eu faço caras de homem sério e de menino travesso.

Aqui, nesta esquina, eu digo “bom dia”, “boa tarde” e, por vezes, poucas vezes, “boa noite”, também.

“Até amanhã”, “boa sorte”, “bom trabalho”, “boa semana”, “até mais ver”... eu também digo aqui, nesta esquina.

Aqui, nesta esquina, eu acompanhei, via rádio, muitas vitórias, empates e derrotas do meu Corinthians, inclusive aquela que marcou a queda do Timão para a segunda divisão do Campeonato Brasileiro de Futebol.

Aqui, nesta esquina, eu recebi a notícia da morte de meu cunhado Paulo César Brasil, há exatos seis meses.

Aqui, nesta esquina eu penso na vida, na minha família, no meu trabalho, no meu futuro.

Nesta esquina, bem aqui, eu acompanhei pela Rádio Jovem Pan e pela voz marcante de Téo José, que conheci em Goiânia, a metade final do Grande Prêmio da Inglaterra de Fórmula 1, vencido pelo piloto inglês Lewis Hamilton.

Aqui, nesta esquina, eu sorri, eu sofri, eu chorei nesta manhã ao saber que, três anos depois da última vez, o “meu menino” Rubens Barrichello (foto), que conheço desde os oito de idade (dele), voltou ao pódio da Fórmula 1, desta vez a bordo de um Honda, a mesma marca do meu carro, que desde às 9h50 está estacionado exatamente junto a esta esquina.

Uma esquina realmente inesquecível.

Por quê?

Ah... e você ainda pergunta por que, caro e-leitor?

6/7/2008 12:23:56

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