Por quê? (362) – Fomos todos roubados?


Cláudio Amaral

Basta a seleção brasileira de futebol ser eliminada de uma competição – seja ela importante ou não – para as reclamações crescerem.

Assim foi a partir do momento em que o narrador da Univision anunciou que o árbitro de Peru 1 X Brasil 0 apitou o final do jogo da noite deste domingo (12/6/2016), aqui nos Estados Unidos.

Até parece que a partida de futebol e o mundo estavam se acabando, que nosso planeta não tem pelo menos outro problema mais grave e complicado (como inúmeras guerras – na Síria, por exemplo – e atentados como o da boate em Orlando, também aqui nos EUA, onde cerca de 50 pessoas morreram vítima de um louco).

Sim, porque imediatamente passamos a ouvir gritos de “Fora Dunga. Fora Dunga. Fora Dunga”.

É sabido que os problemas da seleção brasileira de futebol não se acabarão com a troca do treinador. Como não acabaram quando da substituição de Felipão por Dunga, logo após o 7 a 1 que o Brasil tomou da Alemanha, na Copa do Mundo de 2014.

Parece difícil entender que fomos todos roubados? Ou melhor: que somos sempre roubados, dentro e fora dos campos de jogo, nos balcões de negócios, nas mesas de bares e restaurantes, nos ônibus, no metrô, nas ruas, nos cinemas, nos teatros, nos estádios de futebol e em qualquer aglomeração humana, por exemplo?

É difícil aceitar que somos todos roubados desde que o Brasil foi “descoberto” (ou passou a ser explorado) pelos europeus chegados de Portugal, em 1500 e depois em 1808, quando a Família Real foi obrigada a fugir da fúria de Napoleão Bonaparte?

Seria melhor aceitar que a Família Real Portuguesa é a maior responsável pelos nossos desajustes de todos os tipos – ou não é?

Ou isso é consequência dos desajustes de caráter do ser humano em geral?

Pelo sim, pelo não, sabemos todos que ninguém está satisfeito apenas e tão somente com o que tem. Todos – ou quase todos – nós queremos mais. Mais dinheiro, mais poder e mais coisas e bens materiais. Tudo gerado pelo mundo selvagem e capitalista em que vivemos.

Se o ser humano fosse menos egoísta e mais solidário, o mundo seria melhor. Ou não?

Será que se o ser humano ficasse contente – ou menos insatisfeitos – com o que tem (ou temos?), seriam menores as desavenças na política, na economia, no poder municipal, na esfera estadual e ou a nível federal? Será?

Com gente mais cordata, mais feliz e mais satisfeita com o que tem (ou temos?) teríamos evitado os intermináveis “Fora Dilma”, “Fora Lula”, “Fora Temer”, “Fora Cunha”, “Fora Renan”, “Fora Alckmin”, “Fora Haddad”, “Fora Moro”, “Fora imprensa golpista” e assim por diante? E mais: evitaríamos as desavenças, os desencontros e as lutas corporais entre torcedores do meu Corinthians, do SPFC, do Palmeiras, do SantosFC, do Flamengo, do Fluminense, do Atlético e do Cruzeiro de Minas Gerais, dos colorados e dos tricolores do Rio Grande do Sul, por exemplo?

Ou isso é próprio e inerente ao ser humano, no Brasil e no mundo, no futebol e na política?

A intolerância está em todas as partes e cresce assustadoramente, todo dia, dia após dia, apesar dos constantes apelos em prol da Paz e da Misericórdia pronunciados por líderes como o Papa Francisco, entre outros.

Por quê?

Ah... e você ainda pergunta por que, caro e-leitor?


(*) Cláudio Amaral (clamaral@uol.com.br) é jornalista desde 1º de maio de 1968, Mestre em Jornalismo para Editores pelo IICS/SP (Turma de 2003) e Biógrafo pela FMU/Faculdade de História/SP (Turma de 2013/2015).

Comentários

Geraldo Nunes disse…
Mas ainda não é o fundo do poço do futebol brasileiro que virá se a seleção não se classificar para a Copa de 2018. O Brasil precisa se repensar em todos os sentidos.

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