Por quê? (362) – Os pássaros também falam?


Cláudio Amaral

Nos romances os animais falam, escreveu Erico Verissimo no alto da página 37 da 48ª. edição de Clarissa, publicada pela Editora Globo (Porto Alegre – Rio de Janeiro), em 1983.

Intrigado com essa frase, que li perto do meio-dia deste sábado (18/6/2016), na sala de casa, em Ashburn Village, no Estado de Virgínia, aqui nos Estados Unidos da América, fui conferir ao longo dos caminhos que existem por estes lados do Hemisfério Norte.

E qual foi a conclusão a que você chegou?, deve estar perguntando aquele que me lê neste momento, via rede mundial de computadores, em algum lugar do planeta.

A conclusão é: Sim. Os animais falam. E não é apenas nos romances.

Todos os animais?

Acredito que a resposta correta é sim. Mas, com certeza absoluta posso sustentar que pelo menos os pássaros falam.

Sim. Os pássaros falam. Ou pelo menos essa é a impressão que tenho ao longo das minhas caminhadas diárias em torno do lago artificial que costumo frequentar nesta minha pequena ausência do Brasil, a segunda neste ano.

Estamos em Ashburn pela sétima vez em cinco anos. Desde a manhã de terça-feira, 07/06/2016, depois de um conturbado voo entre o Aeroporto Internacional Governador André Franco Montoro, em Cumbica, bairro do município paulista de Guarulhos, e o Washington Dulles, na capital dos EUA.

Viemos, Sueli e eu, para participar do nono aniversário da netinha Beatriz, nascida no Brasil, em 2009, e que aqui vive com os pais e o irmãozinho Murilo, 6 anos e meio, há quase cinco anos.

Uma das primeiras atitudes que tomamos foi fazer uma caminhada em torno do lago existente nas proximidades. Um lago artificial que conhecemos desde que aqui chegamos pela primeira vez, no segundo semestre de 2011. Foi logo que o neurocirurgião Diogo Lins me liberou da fase de recuperação da cirurgia à qual fui submetido para extração de um tumor na cabeça, abaixo do couro cabeludo.

Já estivemos por essas bandas do Hemisfério Norte em todas as estações do ano. E enfrentamos todo tipo de temperatura, da mais fria à mais quente.

Os animais também. Conhecemos todos os tipos que são comuns por essas terras. Inclusive os mais diferentes para gente como nós: os esquilos, por exemplo, que não são comuns no Hemisfério Sul.

Entre os mais corriqueiros vemos sempre os patos, os gatos, os cachorros, as tartarugas e muitas aves. Muitas. Muitas das quais são citadas por Verissimo pai no romance Clarissa, escrito em 1933 e que figura como segunda obra de uma lista de mais de 40 produzidas pelo viajante apaixonado (como lemos na Pequena Biografia do Autor). Tão viajante que passou, inclusive, pelos EUA e em Washington DC foi diretor do Departamento de Assuntos Culturais da OEA, a Organização dos Estados Americanos por três anos a partir de 1953.

Mas, a impressão que temos é que os pássaros daqui também são diferentes dos nossos.

Onde moramos, no bairro paulistano da Aclimação, as aves também são comuns e entre elas imperam as maritacas, que têm entre suas principais características o barulho.

Vemos ainda outros tipos, especialmente aqueles que frequentam nossa jabuticabeira e insistem em bicar as jabuticabas antes mesmo que possamos desfrutar delas.

Mas, bairrismo à parte, aqui nos EUA os pássaros parecem mais alegres, mais ousados, mais dóceis e familiares (embora em momento algum eu tenha conseguido uma boa imagem deles ou de um deles, o que certamente frustrará Amigos como o mariliense Ivan Evangelista Jr.).

Aqui eles voam como se nos desafiassem e como se convivessem mais perigosamente com os desafios da natureza. Sempre a nos fazer lembrar dos perigos que vivemos a bordo do Boeing da United Airlines que nos transportou ao longo das 6.000 milhas que separam São Paulo de Washington DC.

Por quê?

Ah... e você ainda pergunta por que, caro e-leitor?

(*) Cláudio Amaral (clamaral@uol.com.br) é jornalista desde 1º de maio de 1968, Mestre em Jornalismo para Editores pelo IICS/SP (Turma de 2003) e Biógrafo pela FMU/Faculdade de História/SP (Turma de 2013/2015).


18/06/2016 12:23:27  em Ashburn, Virgínia, EUA
.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Por quê? (111) Rumo a Adamantina

Por quê? (440) – A 15ª vez, uma das melhores viagens

Por quê? (439) – Os 101 anos de José Padilla Bravos