Por quê? (75) Adeus, Eduardo Martins

Cláudio Amaral

Depois de Irigino Camargo, meu primeiro e inesquecível Mestre, Eduardo Martins foi o jornalista que mais acreditou em mim como profissional.

Tive o privilégio de trabalhar com ele durante todos os anos em que passei pelo Estadão, de julho de 1969 a março de 1975.

Nossa ligação era tão forte e nossa amizade tão sólida que jamais deixamos de nos falar e nos comunicar.

Lembro-me, por exemplo, que quando estava diretor de Redação de O Estado de Mato Grosso do Sul, em Campo Grande, em 2004 e 2005, liguei para ele, ainda no Estadão, e falamos longamente.

A partir daquela conversa, quando ele me revelou ter morado ao lado da principal agência dos Correios, em Campo Grande, ainda moço, antes de vir para São Paulo, trocamos seguidas mensagens pelo correio eletrônico.

Através delas combinamos que ele iria à capital sul-mato-grossense, a convite de O Estado de MS, para ter uma conversa com os jornalistas que trabalhavam comigo.

Essa conversa acabou não acontecendo porque eu voltei para São Paulo antes do previsto, mas o contato jamais se desfez.

Recentemente, precisei falar com ele, pedi os telefones ao amigo comum Luiz Roberto de Souza Queiroz, mas o tempo passou e eu não liguei.

Não liguei e não ligarei mais, porque, infelizmente, Eduardo Lopes Martins Filho nos deixou na madrugada deste domingo, 13 de abril de 2008, aos 68 anos de idade.

Foi sem saber do resultado do jogo que o time da preferência dele, o Palmeiras, fez com o São Paulo FC, no Morumbi, pelas semifinais do Campeonato Paulista.

Até porque, no exato momento em que os dois times entravam em campo, familiares e amigos conduziam o corpo de Eduardo Martins para a última morada.

E, a exemplo do que ocorreu com o sepultamento do Amigo Carlucho Maciel, na quinta-feira, 10 de abril de 2008, em Osasco, eu não pude comparecer nem ao velório, nem ao enterro.

Por quê?

Simplesmente porque só agora, perto da meia-noite, foi que li no site do Estadão que Eduardo Martins nos deixou.

Dele guardo apenas boas lembranças.

Eduardo Martins foi meu primeiro editor no Estadão. Eu era correspondente do jornal da família Mesquita em Marília e ele o responsável pelas páginas do Interior.

Foi com ele que aprendi muito do que sei a respeito da língua portuguesa, porque, além de um profundo conhecedor do nosso idioma, Edu era um professor nato.

Certa vez, quando eu já estava na Redação do Estadão, aqui em São Paulo, ele me contou que veio de Mato Grosso (Mato Grosso do Sul ainda não existia) para estudar Medicina na Capital paulista.

Como o vestibular era dos mais difíceis e concorridos, ele se matriculou num cursinho e, para pagar os estudos, foi trabalhar no Estadão, em 1956, aos 17 anos.

Era para ser um trabalho temporário, mas ele gostou tanto do Jornalismo que nunca mais deixou a profissão.

Nos anos 1970, Mestre Edu fez Administração de Empresas na Fundação Getúlio Vargas, mas nunca exerceu a profissão.

Ficou famoso com os livros de português, um programa na Rádio Eldorado, mas principalmente com o Manual de Redação e Estilo do Estadão, o mais vendido de todas as publicações do gênero.

Merecia, por sua competência e honestidade, ter sido diretor de Redação do Estadão, mas nunca fez o jogo político necessário e indispensável para chegar lá.

Editou praticamente todas as áreas dentro do jornal e nos últimos anos que lá passou se dispôs inclusive a reorganizar o arquivo.

Mestre Eduardo Martins é daquelas pessoas que vão fazer muita falta ao Jornalismo brasileiro.

Agora e por muitos e muitos anos.

Por quê?

Ah... e você ainda me pergunta por que, seu faccia bruta?

14/4/2008 00:10:50

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