Por quê? (77) Fora, caminhões!

Cláudio Amaral

Os caminhões, veículos que estão sendo escorraçados pelos usuários das ruas e avenidas da Capital paulista, me perseguem desde criança.

Por quê?

Porque, desde quando era menino pequeno lá em Adamantina, eu queria ser motorista de caminhão.

Lembro-me bem de um mês de dezembro em que escrevi uma carta para meus avós maternos, que residiam em São Paulo, para pedir “de presente de Natal um caminhão grandão de madeira da marca FMN” (não era FNM, sigla da Fábrica Nacional de Motores; era, de verdade, na minha cabecinha, “um FMN”).

Como eu não ganhei o tal “presente de Natal”, os caminhões continuaram sendo meu sonho de consumo.

Depois, quando adolescente, sonhei dirigir um dos “Mercedões” que a família Guizzardi, vizinha da minha casa, usava para transportar botijões de gás de São Paulo para Adamantina.

Só sosseguei, mas pouco, quando pude dirigir um caminhão Ford carregado de amendoim produzido na fazenda da família Martins, também vizinha da minha casa de Adamantina.

Os anos se passaram, meus sonhos mudaram e acabei me antipatizando com os caminhões quando, já jornalista, tomei conhecimento do lobby das multinacionais que produzem esses veículos no Brasil para conter a expansão da malha ferroviária brasileira.

Os dirigentes dessas empresas fizeram de tudo para que as cargas não fossem transportadas de trem, mas cada vez mais por rodovias, de caminhões.

É por isso que quase todas as nossas ferrovias faliram e raramente temos oportunidade de viajar de trem.

Agora, com as complicações diárias cada vez maiores no tráfego de veículos pelas vias públicas da Capital paulista, os caminhões voltaram ao centro das discussões.

Os engenheiros e técnicos da Prefeitura de São Paulo alegam ser necessário tirar os caminhões das nossas ruas. Pelo menos durante o dia, pois, segundo eles, só assim os ônibus, utilitários e veículos de passageiros rodarão melhor.

E tudo me leva a acredita que sim.

Tudo me leva a crer que os caminhões são os vilões da história.

Por quê?

Porque vi, na quarta-feira, de oito às 10h30 da manhã, o número incalculável de caminhões que circulam pela Avenida dos Bandeirantes, na zona sul desta cidade, tanto num quanto noutro sentido.

Vi também como é acentuada a falta de profissionalismo dos motoristas de caminhões e seus ajudantes durante o serviço de carga e descarga de mercadorias junto a estabelecimentos comerciais da Capital.

Um exemplo?

Um só: sábado passado, 26/4/2008, um caminhão de uma distribuidora de cervejas (da Skol, para ser mais claro) subiu a Rua Borges Lagoa e foi estacionado em fila dupla pouco antes da esquina com a Rua Domingos de Morais, na Vila Mariana. Assim que parou o “bruto”, o motorista ligou o pisca alerta e desceu com dois auxiliares para deixar cerveja nos bares do pedaço. Os demais veículos não existiam para os três “cervejeiros”. Todos os motoristas foram obrigados a ter paciência de Jó porque os “belezas” e “gracinhas”, como foram chamados pelos condutores e passageiros dos demais automotores, precisavam descarregar “água suja” para os “brameiros” da região.

Por tudo isso, eu junto meus pulmões aos dos demais insatisfeitos e grito, com força total: fora, caminhões!

Por quê?

Ah... e você ainda me pergunta por que, caminhoneiro insensível?

27/4/2008 18:53:56

Comentários

Cláudio Amaral disse…
Amigos me chamam a atenção por causa dessa crônica. Acham que eu abordei os transtornos causados pelos caminhões que circulam por São Paulo, Capital, como um caso pessoal, particular.

Sim. Admito. Esses transtornos representam um caso pessoal, particular, mas não só para mim. Os caminhões complicam as vidas de quase todos os paulistanos.

Ah! Eles me cobram mais exemplos. Pois bem: hoje, terça-feira, 29/4/2008, no trajeto que fiz da Aclimação para o Brooklin, perdi mais de meia hora na Avenida dos Bandeirantes por conta dos... caminhões. Além de serem muitos, mas muitos, eles atravancaram o acesso da Bandeirantes para a Avenida Santo Amaro. Um deles, dos grandes, aparentemente com problemas mecânicos estava estacionado bem naquele ponto e eliminava um pista de rolamento.

Pode?

Vocês querem mais exemplos?

Cláudio Amaral

Postagens mais visitadas deste blog

Por quê? (111) Rumo a Adamantina

Por quê? (440) – A 15ª vez, uma das melhores viagens

Por quê? (299) Carteira de Habilitação Internacional