Por quê? (165) Mamãe, mamãe, mamãe...


Cláudio Amaral

Exatamente neste domingo, o Dia dos Pais de 2009, eu me dediquei integralmente à minha mãe.

Até porque não tenho pai desde 1985, quando o senhor Lázaro Alves do Amaral, o ‘seu’ Lazinho, nos deixou, vítima de insuficiência cardíaca, em Marília.

Acordei cedinho, peguei meu Honda Fit e às 7h30 estava a sair do prédio em que vivo com Sueli, em Santos, rumo a São Paulo.

Subi a Serra do Mar e fui direto ao endereço de minha irmã caçula, no Ipiranga.

Como havia combinado com meu sobrinho Gustavo Moreno, que agora está mais palmeirense do que nunca, cheguei lá minutos, poucos minutos após 9 horas da manhã.

Clélia, a caçulinha, me aguardava.

Ela, os filhos Gustavo e Luciano, torcedor do Santos FC, e mulher dele, Thaís.

Os dois, mais jovens e fortes do que eu, desceram Dona Wanda usando uma cadeira de rodas, colocaram ela e as bagagens no carro e fomos, os três – minhas mãe e irmã, mais eu – rumo ao Aeroporto de Viracopos, em Campinas.

Foi de lá que saiu para Campo Grande o avião da Azul, a mais nova companhia aérea do Brasil.

Minha mãe poderia ter ido no ônibus da Azul de São Paulo a Viracopos, mas foi comigo e minha irmã. Primeiro, porque é minha mãe; segundo, porque tem quase 80 anos; terceiro, porque é usuária de cadeira de rodas.

Dona Wanda vive há anos, muitos e muitos anos, na casa de minha irmã Clélia, mas agora foi passar uma temporada – anos, talvez – com a primeira filha, na capital do Mato Grosso do Sul.

Cleide vive lá ao lado dos filhos Douglas, Diógenes e Débora. Tem a cercá-la, também, as noras, o genro e netos.

Sentiu-se, portanto, no direito e na obrigação de ter a mãe, idosa e a exigir cuidados especiais, sob a guarda dela.

Na hora do embarque, contamos, os três (Dona Wanda, Clélia e eu) com a extrema dedicação de Elton, funcionário exemplar do Aeroporto de Viracopos.

Jovem e bem mais forte do que eu, ele pegou minha mãe no colo, exatamente como havia feito meu sobrinho Gustavo, a retirou de dentro do meu Fit e a colocou na mesma cadeira de rodas.

Em seguida, ele nos levou ao balcão de checagem e depois ao portão de embarque. Negou-se a aceitar recompensa pelo trabalho, disse que havia feito aquilo “por gosto e dedicação ao próximo” e se foi. Não sem antes desejar “boa viagem” às minhas mãe e irmã.

Comovidos, minha irmã e eu, agradecemos da melhor forma que sabemos:

- Deus lhe pague, Elton.

No portão de embarque, finalmente, tive uma grande decepção: a funcionária do aeroporto não me deixou acompanhar minha mãe até o momento final do embarque.

Educadamente, eu ainda disse a ela: “Você tem mãe, não é mesmo?” E como ela confirmou que sim, eu insisti: “Então você deve saber o que estou sentido agora, tendo que me despedir dela aqui, não é assim?”

Ela fez que sim como a cabeça e me desmontou ao dizer, encabulada:

- O senhor precisa entender que eu não tenho autoridade para deixá-lo passar daqui.

O que eu poderia fazer diante de tão exemplar funcionária?

Nada. Absolutamente nada.

Despedi ali mesmo de minhas mãe e irmã, desejei boa viagem a ambas e peguei o caminho de volta para Santos. Nada mais. E fiz a viagem de volta pedindo a Deus que cuide delas e que me permita voltar a ver minha mãe com saúde.

Por quê?

Ah... e você ainda pergunta por que, caro e-leitor?

(*) Cláudio Amaral clamaral@uol.com.br é jornalista desde 1º de maio de 1968, repórter, editor, professor e orientador de jovens jornalistas, palestrante e consultor de empresas para assuntos de comunicação empresarial e institucional.

9/8/2009 21:45:33

Comentários

Oi Cláudio. Eu tenho mãe e pai, te entendo. Mas calma guri, que há de ver sim sua mãe novamente e com saúde. Mas também compreendo a funcionária do aeroporto. No entanto, o que vos digo é que nunca há tempo suficiente para despedidas. Aliás, para que despedidas? Um até logo é suficiente para nós, amantes. Bom início de semana.

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