Por quê? (83) Vãobora, vãobora?


Cláudio Amaral

Ela voltou. Feliz. Sorridente. Cantante. Sarrista.

Apesar do frio de menos de dez graus registrado na manhã desta segunda-feira, 12/5/2008, na velha e querida São Paulo da garoa, aquela figura no mínimo inusitada, à qual me referi pela primeira vez na crônica do dia 9/1/2008, reapareceu com tudo.

Acordou cedo, cedinho, e ainda de pijama, desceu para a parte térrea da casa em que vive, na Aclimação, abriu a porta, pegou o Estadão e o folheou inteirinho. Tal qual havia feito na noite anterior com as edições de sábado e domingo.

Em seguida, deu uma geral na cozinha, colocou a água para ferver (na chaleira, para o café; na leiteira, para as mamadeiras da netinha), arrumou a mesa para a primeira refeição do dia e saiu correndo quando a filha chegou com a figurinha mais amada da família.

Estava feliz, a figura. E tinha motivos, muitos motivos.

A vitória do Timão, no sábado à tarde, na reabertura do Estádio Municipal Dr. Paulo Machado de Carvalho, o Pacaembu, por 3 a 2 sobre o CRB, de Alagoas, era um desses motivos.

Ainda que o Corinthians esteja na segunda divisão do Campeonato Brasileiro, pela primeira vez, a figura estava feliz. Afinal, vitória é vitória, seja qual for a divisão do campeonato.

As surras que os adversários (SPFC, Palmeiras e Santos FC) tomaram no sábado e no domingo também alegraram a figura no mínimo inusitada.

Alegraram tanto, que ela, a figura, saiu de casa ora assobiando, ora cantando.

No caminho até a padaria, zoou com o pasteleiro da esquina: “E aí, Brejão? Cadê o campeão?”

Brejão é palmeirense e viveu semanas de alegria com o desempenho do Porcão no Paulistão 2008. Especialmente com o 5 a 0 sobre a Ponte Preta, no jogo final da competição.

Na Dengosa, a padaria mais próxima da casa da figura, entrou tirando o sarro no Carlão, o caixa, torcedor do time de bambis do Morumbi: “Fala, palmeirense”.

Diante de um outro peso pesado do estabelecimento instalado na esquina das ruas Queirós Aranha e Topázio, já no balcão, mais gozação: “Pão de banha? Não. Banha chega a que eu carrego aqui” (e bateu na barriga, que já foi maior, bem maior).

Tal qual no caminho de ida, a figura no mínimo inusitada voltou para casa distribuindo sorrisos. Ora cantava (vãobora, vãobora, tá na hora, vãobora...), ora assobiava a música tema do jornalístico matinal da Rádio Jovem Pan.

As pessoas que trafegavam pela Rua Dr. José de Queirós Aranha olhavam para a figura e certamente nada entendiam.

Umas faziam caras de espanto. Outras, sonolentas, nem tanto. Mas todas sentiam a presença daquela figura alegre de uma manhã friorenta.

Na esquina da Rua Gregório Serrão, nova gozação com o palmeirense: “Os jogadores do Porcão perderam o caminho do gol, Brejão?”.

Nem assim o cidadão de Mato Grosso do Sul, que veio fazer a vida na Capital paulista, perdeu a esportiva, e respondeu, também com humor: “É tática”.

“Tática?”, emendou a figura. “E desde quando perder é tática, Brejão?”

Sorrindo e cantando (vãobora, vãobora, tá na hora, vãobora...), a figura foi em frente, na certeza de que um novo dia, um novo e grande dia, surgia nos horizontes paulistanos.

Por quê?

Ah... e você ainda pergunta por que, meu caro e-leitor?

12/5/2008 09:35:55

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