Por quê? (112) Dia dos Pais
Cláudio Amaral
Vou à garagem para colocar o guarda chuva dentro do carro e dou de cara com um Philips antigo.
Imediatamente, lembro-me do meu pai.
Não por acaso, é Dia dos Pais, 10 de agosto de 2008.
Era nesse Philips que meu pai ouvia as notícias de São Paulo, do Brasil e do mundo.
Fabricado na Holanda, ele ainda tem carcaça de plástico duro (Bakelite) e válvulas, muitas válvulas.
Uma delas está queimada há anos, muitos anos. E com isso eu não posso mais ouvir a Bandeirantes, a emissora de rádio preferida do meu pai.
Desde 1958, pelo menos, quando meu pai, minha mãe, minhas duas irmãs, meu irmão e eu mudamos de volta de São Paulo para Adamantina, onde nasci, que ele, meu pai, usava o hoje velho Philips holandês para ouvir a Rádio Bandeirantes e através dela as notícias do dia.
Ele ouvia Vicente Leporace, Enzo de Almeida Passos, Moraes Sarmento, Salomão Ésper, Pedro Luis, Mário Moraes, Edson Leite, José Paulo de Andrade, Fiori Giglioti... e muitos outros grandes nomes do rádio-jornalismo brasileiro.
Cresci ouvindo essa gente falando o dia todo aos meus ouvidos, enquanto passava roupas – calças, principalmente – na Lavanderia Adamantina.
Certa vez o Philips caiu ao chão e caixa de plástico, embora duro, se quebrou.
Felizmente, foi só a caixa. A parte elétrica, inclusive as válvulas, continuou a funcionar normalmente.
Enquanto meu pai não conseguiu uma caixa igual, ouvíamos a Bandeirantes – sempre em ondas curtas de 49 metros – no esqueleto do Philips.
Anos depois, quando eu já estava casado e morava em apartamento próprio com Sueli e Cláudia, nossa primeira filha, na Rua Machado de Assis, na Vila Mariana, em São Paulo, chegou de Marília uma caixa de papelão.
- É o seu presente de aniversário enviado por seu pai, me disse Sueli.
Abri e dei de cara com o velho Philips remoçado.
Meu pai havia conseguido um caixa de plástico igualzinha à original. Não era nova, mas brilhava.
Usei o velho Philips holandês o quanto ele me permitiu.
Ouvia as emissoras locais, inclusive a Bandeirantes, em AM. As rádios de outras localidades, como a Globo do Rio de Janeiro, eu escutava em ondas curtas.
Quando eu e a família nos mudamos para a casa assobradada onde vivemos há mais de 30 anos, na Rua Gregório Serrão, armei uma antena de cinco metros, de um canto ao outro do quintal, o mais alto possível.
Coloquei o Philips no escritório, um quartinho localizado após o quintal, e lá ficava, sempre que tinha tempo livre, a escutar emissoras da Argentina, da Europa e dos Estados Unidos.
Quando ele deixava de funcionar, eu o levava a um técnico que morava e trabalhava a cerca de 200 metros de minha residência.
Um dia, infelizmente, o senhor rádio-técnico levou um choque forte, enquanto consertava um aparelho elétrico, e morreu.
Nunca mais eu encontrei quem trocasse as válvulas queimadas do velho Philips.
Hoje, Dia dos Pais, ele, o Philips holandês, é peça de museu. Repousa tranqüilo na garagem. E serve apenas para me fazer lembrar do meu pai, Lázaro Alves do Amaral, que nos deixou em 1985.
Como eu tenho saudades do meu pai.
Por quê?
Ah... e você ainda pergunta por que, caro e-leitor?
10/8/2008 22:22:31
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