Por quê? (122) Minha parte em dinheiro, por favor


Cláudio Amaral

Um grupo de amigos meus estava revoltado, no meio da semana.

A propósito do dia da categoria à qual eles pertencem, as maiores empresas do setor publicaram páginas e mais páginas nos principais jornais do Brasil para saudar os milhares de profissionais do ramo.

Bem fizeram os patrões e seus prepostos que se limitaram a cumprimentarem os seus subordinados, um a um, por telefone ou pessoalmente.

Melhor ainda agiram aqueles que deram um presente, por mais singelo que tenha sido.

Estes, pelo menos, pareceram mais sinceros, mais honestos.

Por quê?

Porque os grandes empresários do setor em que atuam esses meus amigos se esqueceram ou fizeram que não sabem da situação em que vive a grande maioria dos seus “operadores”, digamos assim.

Sem salário fixo, sem ajuda de custo, sem seguro de vida, sem assistência médica, sem tíquete refeição, sem combustível, sem nada, enfim, 95% da categoria vive na penúria.

Uns tomam dinheiro emprestado das esposas, das namoradas, dos filhos, dos pais, de outros parentes, de vizinhos, de amigos e, não raro, dos poucos colegas de trabalho que estão em melhor situação.

Sim, porque uma pequena minoria, algo em torno de 5%, vende bem e fatura o suficiente para ter uma vida digna.

Os outros 95% vivem de ilusão, de esperança, de fé em Deus, da bondade de outras pessoas.

Por conseqüência, é elevadíssima a rotatividade registrada nas empresas do setor. E no próprio setor, porque, sempre que podem, os desiludidos pulam fora.

O duro é que nem sempre eles podem.

O difícil da questão é que raramente eles têm alternativas.

Tanto que deixaram de ser engenheiros, advogados, professores, arquitetos, administradores de empresas, médicos, dentistas, relações públicas, psicólogos, psicanalistas, jornalistas... para serem..., bem, para atuar nessa área em que estão alguns de meus amigos.

Eles contam que muitos saem de casa bem cedo sem nem mesmo um simples cafezinho.

Nos respectivos locais de trabalho passam o dia à base de café preto e água.

Aqueles que fumam, vivem à base do “se me dão”. Pobres coitados: além do vício tão prejudicial à saúde, não têm como sustentá-lo.

Diante de tudo isso, meus amigos perguntam: não seria melhor e mais produtivo esquecer o oba-oba do dia da categoria e usar o dinheiro das páginas e mais páginas de jornal para a criação de um fundo de apoio dos profissionais da área? Não seria mais inteligente dar-lhes vale transporte, tíquete alimentação, etc.?

Por quê?

Ah... e você ainda pergunta por que, caro e-leitor?

28/8/2008 18:52:30

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