Por quê? (244) Fora, censura!!!

Cláudio Amaral

A censura, quando atinge a nós, pessoalmente, é algo tão marcante, que fica difícil nos livrarmos dela por completo.

De tempos em tempos, algo nos faz lembrar de quando e como fomos censurados.

No sábado, 20 de agosto de 2011, por exemplo, conversamos – o fotógrafo e Amigo Marcello Vitorino e eu, na volta de uma visita à exposição que ele montou na Caixa Econômica Federal, na Praça da Sé – a respeito de um amigo meu de infância, dos tempos de Adamantina (SP), que nos censurava no Estadão.

Isso – a censura – aconteceu na primeira metade dos anos 1970. E eu só soube da atividade dele porque nos encontramos, casualmente, numa viagem de ônibus urbano, aqui em São Paulo.

Vitorino ainda me perguntou, no sábado, se ele censurava com convicção e eu disse acreditar que não. Falei que acreditava que ele, o meu amigo de infância, censurava por obrigação profissional, uma vez que era funcionário da Polícia Federal.

Neste domingo, 21 de agosto de 2011, o assunto voltou à minha mente por conta do Padre Mario, celebrante da Missa das 8h da manhã na Capela do Convento da Ordem da Visitação de Santa Maria, na Rua Inácia Uchoa, aqui na Vila Mariana.

Padre Mario nos contou, durante o sermão, que quando prestava serviços nas Paulinas, recebia páginas e mais páginas com o carimbo de “censurado” vindas da Polícia Federal.

E nos explicou a razão: eram páginas que falavam da dedicação de Maria aos pobres, aos humildes, aos rejeitados.

Para Ela, segundo Padre Mario, todos eram filhos de Deus, todos eram iguais. Ou seja: não havia motivo para ignorar nossos irmãos, ainda que eles fossem miseráveis.

Mas, a Polícia Federal e a divisão de censura não pensavam assim e proibiam todas as citações a respeito.

Tal qual meu amigo de infância faziam conosco – com meus colegas de Estadão e comigo – nas páginas daquele que na época (década de 1970) era reconhecidamente o maior jornal do País.

Nós, do Estadão, pelo menos tínhamos como denunciar e protestar contra as notícias e os artigos censurados. Como? Publicando versos de Camões.

O Jornal da Tarde, irmão mais novo do nosso Estadão, também era censurado e colocava no lugar receitas as mais estapafúrdias.

Todos ou quase todos os leitores percebiam.

Padre Mario nos contou também que todas as páginas com o carimbo de “censurado” eram guardadas nas Paulinas.

As minhas reportagens censuradas também eram arquivadas por mim, embora a cúpula do Estadão pedisse que não fizéssemos isso.

Mas eu retirava do mural da Redação as cópias das minhas censuradas, trazia para casa e mostrava para Sueli, que sempre foi católica fervorosa.

Um dia nós observamos o seguinte: quase 100% das minhas reportagens censuradas eram feitas em entrevistas – coletivas, na maioria, mas exclusivas também – com o Cardeal Metropolitano da época, Dom Paulo Evaristo Arns.

Por quê?

Ah... e você ainda pergunta por que, caro e-leitor?

(*) Cláudio Amaral clamaral@uol.com.br é jornalista desde 1º de maio de 1968.

21/8/2011 11:23:50

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