Por quê? (61) Haja paciência

Cláudio Amaral

Tudo na vida exige paciência. Muita paciência.

Agora, morar em São Paulo exige uma paciência sem igual.

Hoje, por exemplo, dia 10 de março de 2008, eu acordei sendo obrigado a ter paciência, mais uma vez, com os pedreiros que desde o início do ano trabalham numa reforma no prédio existente ao lado de minha casa. Parece obra de igreja: não acaba! Entra mês, sai mês, e lá estão eles a falar alto, a martelar, a bater nas latas que usam para transportar areia, cimento, pedra, etc.

Haja paciência!

Como se isto não bastasse, em torno de minha residência estão subindo três edifícios de no mínimo dez andares cada um. E cada um deles tem mais de cem operários. Gente que fala alto, que bate martelos, que sobe desce em elevadores barulhentos. Das 7 horas da manhã às 5 horas da tarde.

Pobre da minha netinha, que tira várias sonecas ao longo do dia e não raro acorda assustada com o barulho dos obreiros do prédio velho ao lado e dos três novos que estão subindo sem parar.

Haja paciência!

E tem mais. Tem, sim.

Ao abrir a garagem de casa para tirar o carro e acelerar rumo ao trabalho, dei de cara com cinco outros veículos a me atrapalhar: um encobria minha visão; outro, encurtava minha área de manobra; um terceiro, em fila dupla, não ia nem vinha; um quarto me espremia entre os demais; um quinto também queria sair da garagem do imóvel da frente.

Conclusão: eu fiquei sem saber se ia, se ficava, se dava vez ou se forçava passagem.

Haja paciência!

Depois que eu consegui sair da garagem, vi que era correto, educado e de bom tom esperar que um pai tirasse dois filhos do carro dele, que acabara de ser estacionado exatamente na frente de casa.

Fiz isso com a maior paciência. Juro!

Afinal, eu também tenho filhos, embora eles estejam todos grandinhos, crescidinhos, têm suas próprias carteiras de motoristas e não dependam mais nem do papai, nem da mamãe.

Mas, além de esperar pacientemente que os garotos saíssem do carro do papai deles, tive que reunir mais paciência ainda. Sim, porque um motorista desavisado, que não conseguia ver a movimentação dos guris à frente do meu veículo, começou a buzinar e a dar sinal de luz alta para que eu movimentasse o meu quatro rodas.

E vocês, caros e-leitores, pensam que eu sai do carro, gritei com ele, ameacei jogar o meu contra o automóvel dele, etc. e tal, como fariam muitos motoristas desta cidade grande?

Não!

Nem pensar!

Respirei fundo, movimentei o carro pacientemente e fui em frente, certo de que não deveria perder a paciência logo às 8 horas da manhã de um dia lindo e que com certeza iria exigir – como exigiu – muito mais paciência deste animado torcedor do Corinthians.

Por quê?

Ah... e você ainda me pergunta por que?

(*) Cláudio Amaral clamaral@uol.com.br é jornalista desde 1º de maio de 1968; professor e orientador de jovens jornalistas; palestrante e consultor de empresas para assuntos de comunicação institucional e criador do http://blogdoclaudioamaral.blogspot.com e do http://aosestudantesdejornalismo.blogspot.com.

10/3/2008 18:59:51

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