Por quê? (11) Conservador

Cláudio Amaral

Na lata, na cara, de chofre, um amigo me perguntou neste sábado, 8/12/2007:

- Você é conservador.

Olhei bem pra ele, pensei bem, repassei minha vida quase toda em fração de segundos e respondi com firmeza e certeza:

- Sim, eu sou conservador.

E ele disparou outra pergunta, como se já tivesse com o dedo no gatilho das palavras:

- Por quê?

Desta vez, sem pensar, comecei a justificar minha posição e ou situação.

Contrariando meu jeito de ser, falei sem medir palavras.

- Sou conservador porque estou casado com a mesma mulher há 36 anos, 3 meses e 3 dias.

- Sou conservador porque contrario a lógica da maioria e custo a trocar de carro. O último, por exemplo, ficou nas minhas mãos por 9 anos, 7 meses e 25 dias.

- Sou conservador porque conservei muito bem todos os meus carros: uma Brasília, duas Parati, um Kadett e um Polo Classic, que, por mim, estaria (o Polo) comigo, ainda, embora fosse completar dez anos em março de 2008.

- Sou conservador porque raramente troco de emprego e ou de empresa.

- Sou conservador porque conservo e preservo minhas amizades, que são muitas e, em geral, sólidas.

- Sou conservador porque moro na mesma cidade (São Paulo) e no mesmo bairro (Aclimação) desde maio de 1971.

- Sou conservador porque vivo na mesma casa há mais de 30 anos.

E assim falei ao meu amigo por mais de 40 minutos.

E ele ali, firme, sem se mexer e sem perder a paciência.

Ele parecia um lorde britânico, embora tenha descendência italiana.

Quando eu parei de falar por absoluta necessidade de tomar fôlego e um copo de água, ele me mandou uma outra pergunta:

- E o quê mais você tem pra me falar a respeito do seu jeito conservador de ser?

E eu, surpreso, também disparei uma pergunta:

- Mais? Você quer mais? Tudo isso não basta?

Ele, com ar de cinismo, seguiu em frente:

- Bastar, até que basta, mas, para alguém como você, que acaba de completar 58 anos de vida, a lista é pequena.

Quase me irritei.

Quase, felizmente.

Acabei rindo e continuei:

- Sou conservador, meu caro, porque torço, e sofro, pelo Corinthians desde menino pequeno lá em Adamantina, onde nasci.

E o meu amigo, mais cínico do que nunca, voltou a me fazer uma pergunta, uma nova pergunta:

- Por quê?

Sei, não.

Quem souber que me diga.

(*) Cláudio Amaral clamaral@uol.com.br é jornalista desde 1º de maio de 1968; professor e orientador de jovens jornalistas; palestrante e consultor de empresas para assuntos de comunicação institucional.

8/12/2007 12:30:48

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Por quê? (442) – Saudade

Por quê? (441) – Cartas a Théo

Por quê? (443) – Pontes, Céus e Miragens