Por quê? (29) Novelas
Cláudio Amaral
Ainda vai demorar muito tempo para que as novelas sejam aceitas abertamente em todos os círculos e camadas sociais.
Apesar da qualidade apresentada pelas novelas da Rede Globo de Televisão, por exemplo, muitos intelectuais, profissionais liberais, executivos, empresários, entre outros, insistem em dizer que não assistem e não gostam de novelas.
Eu também tenho restrições às novelas.
Muitas restrições.
Mas, eu vejo novela e admito isso publicamente.
Não. Eu não vejo todas as novelas.
Vejo, sim, novelas da Globo.
Assisto à novela das 8.
Aquela que a Globo insiste em começar às 9 da noite.
Mas não vejo todas as novelas das 8.
A atual, sim.
A anterior, por exemplo, não.
Em geral, faço assim: vejo uma e a outra, não.
Quando assisto a uma novela, como Duas caras, que está no ar no horário nobre da televisão brasileira, presto atenção no texto (que é o meu negócio), na interpretação de cada ator e atriz (porque fiz teatro na escola do Nilton Travesso, aqui em São Paulo, e me encantei com as artes cênicas) e nas mensagens que autor tenta nos passar.
Um exemplo: de uns tempos para cá, a Globo usa as novelas para divulgar com insistência a importância de doarmos sangue, medula óssea e órgãos do corpo humano; de evitarmos o racismo e outros tipos de descriminações, o álcool e as drogas; de nos prevenirmos contra a dengue, etc.
O que mais tem me chamado a atenção em Duas caras, entretanto, é o comportamento antagônico dos personagens interpretados por José Wilker (professor Francisco Macieira) e Paulo Goulart (professor Eriberto).
Um é progressista, inovador, criativo, quer o bem de todos, pensa sempre no outro, tem determinação pela educação para todos.
O outro é retrógrado, individualista, ambicioso, maldoso, fofoqueiro e age como se, nas entrelinhas, pedisse para o mundo acabar em barranco.
Por quê?
Porque gostaria de morrer encostado, de mãos nos bolsos, recebendo comida e bebida na boca.
Um, porque pensa no futuro.
No futuro do País e do ser humano.
O outro, porque só pensa em si, no aumento de salário que poderá ter (embora não mereça), no poder que teria como reitor da Universidade Pessoa de Moraes.
O progressista, ex-revolucionário ao estilo do hoje deputado federal Fernando Gabeira, tem gosto duvidoso no vestir, mas apurado para escolher a cidade onde viver, a mulher com quem se relaciona e o vinho a ser bebido.
O retrógrado, que sempre bajulou os poderosos, se veste bem, mas só, nada mais.
Foi sincero, ao longo de meses de novela, apenas uma vez.
Foi quando disse, com clareza, o que pensa das idéias do colega que ocupa o cargo que ele tanto ambiciona, ou seja, o de reitor da Universidade Pessoa de Moraes:
- Eu sou contra mudanças. Eu sou contra toda e qualquer mudança.
Por quê?
Ah... e você ainda pergunta por que?
(*) Cláudio Amaral clamaral@uol.com.br é jornalista desde 1º de maio de 1968; professor e orientador de jovens jornalistas; palestrante e consultor de empresas para assuntos de comunicação institucional.
22/1/2008 13:49:42
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