Por quê? (41) Telemarketing


Cláudio Amaral

Quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008, 10h18 da manhã.

E que manhã.

O dia está claro, ensolarado, bonito.

Mais bonito ainda porque eu consegui fazer minha caminhada pelas ruas da Aclimação, “o bairro mais agradável de São Paulo”.

Fui à farmácia buscar medicamentos para Be(bê)atriz.

Fui à padaria em busca de pães e mortadela.

Como eu gosto de pão com mortadela sem gordura.

Hum...

Bem, são 10h18 da manhã e o celular toda.

No visor, o número do escritório central da empresa para a qual presto serviços.

Atendo pensando na Carol, a recepcionista/telefonista da manhã, mas não é ela, não.

Ela apenas me transferiu uma ligação da dona de uma voz que transmite simpatia, muita simpatia.

A mulher, com voz de moça nova, mas madura, se identifica:

- É a Cris, do telemarketing do Jornal da Tarde.

Como eu também faço telemarketing dos meus serviços e produtos, como eu já fiz incontáveis cursos de operador de telemarketing, como eu sou educado e respeito todas as pessoas que trabalham porque precisam..., enfim, procurei ser simpático.

E a moça se aproveitou.

Elogiou minha “voz de locutor” e avançou o sinal: me pediu em casamento, de cara.

Educadamente, eu rejeitei.

Ela insistiu, dizendo:

- Você vai mudar de idéia quando ver (ou vir, moça?) os meus olhos verdes.

E por ai foi, sempre em frente.

E eu fui me desviando, me esquivando, tirando o corpo.

Até o momento em que ela pediu o meu endereço residencial.

Ai eu “apelei”.

Disse “não” e expliquei a razão:

- Eu não gosto do Jornal da Tarde. Meu jornal preferido, leitura diária, é o Estadão (perdão, Cláudia; eu gosto do JT, sim, mas, sinceramente, prefiro o Estadão; sempre preferi o Estadão; mesmo quando trabalhava na Folha, no JB e no Correio Brazilense).

Ainda assim, ou seja, quando eu disse “não gosto do Jornal da Tarde”, a operadora de telemarketing seguiu na tentativa de me “seduzir”.

Até quando eu disse a ela:

- Perdão, Cris. Mas não é desta vez que eu vou assinar o Jornal da Tarde.

Sabe você o que ela fez?

Fez mais uma tentativa de me convencer?

Me pediu novamente em casamento?

Me convidou para um café?

Me chamou para um chopinho?

Nada disso.

Ela desligou sem nem mesmo falar “adeus”.

Agora, 11h18 da mesma manhã, eu te pergunto:

- Pode?

- É assim que se faz telemarketing?

Por quê?

Ah... e você ainda pergunta por que?

(*) Cláudio Amaral clamaral@uol.com.br é jornalista desde 1º de maio de 1968; professor e orientador de jovens jornalistas; palestrante e consultor de empresas para assuntos de comunicação institucional.

14/2/2008 11:19:48

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