Por quê? (44) Professor Cruz
Cláudio Amaral
Essa vai em primeira pessoa, mesmo.
E o recado que tenho para passar aos meus leitores é o seguinte: nunca pensei em escrever crônica.
Nem crônica, nem poema.
Poesia?
Muito menos.
Sempre gostei de escrever notícias, reportagens, comentários. Fatos. De preferência, fatos do dia, quentes. Até porque, como me dizia Carlos Prata, chefe de reportagem na sucursal paulista do Diário de Notícias do Rio de Janeiro: “Jornal é diário e fecha cedo”.
De 2000 em diante, me meti a escrever romances, também. Dois estão concluídos: A menina movida a energia solar (2001) e As aventuras de Claude Amarante (2003), ambos ainda inéditos.
Por concluir, tenho outros dois projetos de livros romanceados: Marcão, você é gay? e Conflitos.
Nos planos, possuo outros quatro, pelo menos: os romances Uma nova vida para Claude Amarante e O abraço que não houve e os técnicos Como surgem os jornais e A história da Comunicação Empresarial no Brasil.
Todos estão bem encaminhados. Os romances estão na cabeça e os técnicos, pesquisados. Faltam apenas tempo e disposição para escrever.
Minha vida de escritor, se é que eu posso ser considerado como tal, começou a tomar um novo rumo na tarde de 25 de junho de 2005, quando fui conhecer o professor e escritor Luiz Cruz de Oliveira, na casa dele, em Franca.
Ex-bancário, ex-jogador de futebol, professor de português de mão cheia, Cruz é um dos homens mais cultos de Franca. Tem 22 livros publicados.
Ao longo de duas horas de conversa das mais agradáveis, ele me ensinou muito. Disse que texto não é para ser engavetado. Seja crônica, livro, comentário, poema, poesia etc.
- Escreveu, publique, recomendou o professor Cruz naquela tarde e no exato momento em que a seleção brasileira de futebol derrotava a da Alemanha pela Copa das Confederações.
A conversa estava tão boa, mas tão boa, que eu nem me dei conta do jogo da seleção. Logo eu que gosto tanto de futebol. Só fui saber do resultado à noite e que tinha estragado os planos do professor Cruz no dia 3 de julho, quando nos encontramos pela terceira vez, no churrasco dos 90 anos do jornal Comércio da Franca.
Cruz, que cinco dias depois do nosso primeiro encontro lançou o livro Esboço de História da Literatura Francana, me abriu os olhos para a crônica.
- Antes do primeiro romance, escreva crônicas, determinou esse francano nascido em Santa Rita de Cássia, uma pequena localidade de Minas Gerais, mais paulista do que mineira.
A crônica, na opinião de Luiz Cruz de Oliveira, funciona como treinamento para a montagem de um bom romance.
- Agora é tarde, professor, eu disse a ele. E acrescentei: é tarde porque já escrevi dois romances inteiros.
Ele não desanimou e me incentivou a escrever crônicas.
Foi o que eu fiz no dia seguinte, domingo, 26 de junho de 2005.
Eu estava no apartamento 73 do Franca Inn Apart-Hotel.
Trabalhava num texto muito especial, a respeito da vida e da obra da jornalista e escritora francana Sônia Machiavelli Corrêa Neves.
Era um texto para a edição especial referente aos 90 anos do Comércio da Franca.
Tinha pressa, porque meu prazo terminaria dois dias depois. Mas, algo me incomodava. Era a crônica que insistia em nascer, em sair pelos meus dedos e ganhar a tela do computador.
Resisti firme. Terminei de fazer o que estava fazendo – digitar as anotações que havia feito enquanto entrevistava duas pessoas que me ajudaram a montar o perfil de Dona Sônia – e imediatamente em seguida passei a parir a minha primeira crônica.
Fiz e gostei.
Gostei tanto, que no dia seguinte escrevi outra e depois mais uma.
Essa é a quarta.
A quarta crônica de uma longa série, que, em breve, seguindo as lições do professor Cruz, mandarei para publicação.
Não sem antes submetê-las ao crivo de Cruz.
Por quê?
Ah... e você ainda pergunta por que?
(*) Cláudio Amaral clamaral@uol.com.br é jornalista desde 1º de maio de 1968; professor e orientador de jovens jornalistas; palestrante e consultor de empresas para assuntos de comunicação institucional.
Franca (SP), 05/07/2005 18:40:51
Comentários
Preciso dizer mais alguma coisa?
Eu também demorei a me conscientizar disto, mas é verdade que deve ser seguida. E quantos textos perdi através dos anos...