Por quê? (18) Chocantes
Cláudio Amaral
Aproveitei a ociosidade da passagem de ano para ver dois filmes.
O primeiro foi Tropa de Elite, que vi em DVD, na noite de 31 de dezembro de 2007, “o melhor ano da minha vida”.
Eu estava na Ilha de Paquetá, no município do Rio de Janeiro, em companhia de familiares e amigos.
O segundo foi Os 2 filhos de Francisco, pela TV Globo, na noite de 1º de janeiro de 2008.
Eu já estava em casa, após oito horas de viagem de charrete movida a cavalos, barca a diesel e carro a álcool, entre Paquetá e São Paulo, mas revi um dos maiores sucessos de bilheteria do cinema nacional na solidão do meu escritório.
As duas películas me impressionaram bastante e me chocaram.
Mesmo o filme a respeito da dupla Zezé de Camargo e Luciano, que eu já havia assistido, em 2005, quando trabalhava na Redação do jornal Comércio da Franca, em Franca, no interior paulista.
Fiquei chocado com a miséria vivida pela família de Francisco de Camargo, tanto na zona rural do interior goiano quanto na periferia de Goiânia.
Fui criança pequena em Adamantina, no interior paulista, onde minha família morou inclusive numa garagem; comecei a trabalhar aos seis anos de idade por absoluta necessidade financeira e nunca mais parei (mesmo depois de ter criado três filhos, viajado pelo Brasil e exterior e possuir casa própria, carro zero, computador portátil, telefone celular e outras modernidades); há 36 anos tenho esposa e filhos a quem nem sempre dei tudo o que eu gostaria de oferecer e eles queriam ter; tenho uma netinha de seis para sete meses e não imagino Be(bê)atriz sem a alimentação básica necessária ao desenvolvimento físico e mental dela.
Por tudo isso, chorei mais de uma vez durante a exibição de Os 2 filhos de Francisco, na primeira noite de 2008.
Chorei, por exemplo, quando a mãe dos filhos de Francisco recomendou à filha que deitasse e ficasse quieta, pois assim a fome passaria.
Chorei, também, quando Zezé de Camargo e Luciano chegaram a São Paulo com uma mão na frente e outra atrás, como um dia eu cheguei do interior paulista.
Tropa de Elite eu conhecia apenas pelo que havia lido e ouvido falar.
Sabia, de antemão, que veria cenas de muita violência, maus tratos, atos de corrupção, tráfico de drogas e outras ações do gênero.
Mas, ainda assim, o filme me deixou de olhos arregalados, faces avermelhadas e orelhas ardentes.
Deixou-me, também, com muitas dúvidas e inúmeras perguntas sem respostas.
Por quê?
Se você não viu o filme, veja, caro leitor.
Se você viu, reveja.
Por quê?
Porque custo a acreditar em tudo que vi em Tropa de Elite.
E quem acreditar, ou não, como eu, que se arrisque a me escrever.
(*) Cláudio Amaral clamaral@uol.com.br é jornalista desde 1º de maio de 1968; professor e orientador de jovens jornalistas; palestrante e consultor de empresas para assuntos de comunicação institucional.
2/1/2008 14:25:49
Aproveitei a ociosidade da passagem de ano para ver dois filmes.
O primeiro foi Tropa de Elite, que vi em DVD, na noite de 31 de dezembro de 2007, “o melhor ano da minha vida”.
Eu estava na Ilha de Paquetá, no município do Rio de Janeiro, em companhia de familiares e amigos.
O segundo foi Os 2 filhos de Francisco, pela TV Globo, na noite de 1º de janeiro de 2008.
Eu já estava em casa, após oito horas de viagem de charrete movida a cavalos, barca a diesel e carro a álcool, entre Paquetá e São Paulo, mas revi um dos maiores sucessos de bilheteria do cinema nacional na solidão do meu escritório.
As duas películas me impressionaram bastante e me chocaram.
Mesmo o filme a respeito da dupla Zezé de Camargo e Luciano, que eu já havia assistido, em 2005, quando trabalhava na Redação do jornal Comércio da Franca, em Franca, no interior paulista.
Fiquei chocado com a miséria vivida pela família de Francisco de Camargo, tanto na zona rural do interior goiano quanto na periferia de Goiânia.
Fui criança pequena em Adamantina, no interior paulista, onde minha família morou inclusive numa garagem; comecei a trabalhar aos seis anos de idade por absoluta necessidade financeira e nunca mais parei (mesmo depois de ter criado três filhos, viajado pelo Brasil e exterior e possuir casa própria, carro zero, computador portátil, telefone celular e outras modernidades); há 36 anos tenho esposa e filhos a quem nem sempre dei tudo o que eu gostaria de oferecer e eles queriam ter; tenho uma netinha de seis para sete meses e não imagino Be(bê)atriz sem a alimentação básica necessária ao desenvolvimento físico e mental dela.
Por tudo isso, chorei mais de uma vez durante a exibição de Os 2 filhos de Francisco, na primeira noite de 2008.
Chorei, por exemplo, quando a mãe dos filhos de Francisco recomendou à filha que deitasse e ficasse quieta, pois assim a fome passaria.
Chorei, também, quando Zezé de Camargo e Luciano chegaram a São Paulo com uma mão na frente e outra atrás, como um dia eu cheguei do interior paulista.
Tropa de Elite eu conhecia apenas pelo que havia lido e ouvido falar.
Sabia, de antemão, que veria cenas de muita violência, maus tratos, atos de corrupção, tráfico de drogas e outras ações do gênero.
Mas, ainda assim, o filme me deixou de olhos arregalados, faces avermelhadas e orelhas ardentes.
Deixou-me, também, com muitas dúvidas e inúmeras perguntas sem respostas.
Por quê?
Se você não viu o filme, veja, caro leitor.
Se você viu, reveja.
Por quê?
Porque custo a acreditar em tudo que vi em Tropa de Elite.
E quem acreditar, ou não, como eu, que se arrisque a me escrever.
(*) Cláudio Amaral clamaral@uol.com.br é jornalista desde 1º de maio de 1968; professor e orientador de jovens jornalistas; palestrante e consultor de empresas para assuntos de comunicação institucional.
2/1/2008 14:25:49
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