Por quê? (38) Solidão


Cláudio Amaral

Às vezes é bom ficar só.

Às vezes.

Em geral, não.

A solidão é uma boa companhia.

Mas... às vezes.

Sempre, não.

Companhia boa, com certeza, é a dos Amigos.

Dos Amigos como a mulher que nos ama de verdade, dos filhos que nos admiram e respeitam, dos pais que têm orgulho de nós, dos irmãos que nos são solidários, dos colegas de trabalho que agem como nossos parceiros e dos estudantes que nos cercam nas salas de aulas, por exemplo.
Companhia boa, certamente, é a da mulher e dos filhos a quem amamos e admiramos, dos pais e dos irmãos a quem respeitamos, dos colegas aos quais podemos recorrer sem ter dúvida alguma (de caráter, por exemplo).

Companhia boa é a dos chefes que nos orientam e nos cobram, nos compreendem e nos apóiam.

Conclusão: ficar só é bom, mas... nem sempre.

Por quê?

Porque o ser humano não nasceu para viver só.

Eu, pelo menos, sou assim.

Gosto de companhia no café da manhã, no almoço, no café da tarde (sempre em torno das 16h30) e no jantar.

Gosto de companhia no trabalho, nos estádios (especialmente no Pacaembu, quando vou ver os jogos do Corinthians), no teatro, no cinema, nos shows do Sesc Vila Mariana e no Ibirapuera, nas sessões de ginástica e de hidroginástica.

Até para ver TV eu gosto de companhia.

Na sauna, também.

Mas, vez por outra, admito, é bom ficar só.

Em Campo Grande (MS), onde trabalhei por oito meses, eu curti dias e semanas de solidão. Curti mesmo. Na maior parte do tempo em que lá fiquei eu não me sentia na obrigação de ligar para casa e dizer que iria chegar mais tarde, que antes daria uma passadinha no shopping ou na Feirona (você conhece a Feirona de Campo Grande?), tomar um café ou (raridade) beber um chopp.

Em Franca (SP), onde fiquei outros 18 meses, era igual na maior parte do tempo. Saia tarde, bem tarde, da Redação do Comércio da Franca e podia ir sem aviso prévio ao Peixinho, ao Picanha, à Sapataria da Pizza, ao shopping, ao supermercado 24 horas ou tomar deliciosos caldos na Avenida Champagnat.

Em São Paulo, curtia ficar só na enorme Redação do Estadão. Sentia-me dono de tudo. Todos os telefonemas eram para mim e eu os atendia com satisfação indisfarçável. Mas, prazer maior eu tinha quando todas as mesas e cadeiras estavam ocupadas, porque eu me via entre gente importante: Oliveiros S. Ferreira, Carlos Conde, Eduardo Martins, Clóvis Rossi, Ricardo Kotscho, Luiz Roberto de Souza Queiroz, Fausto Silva... Falava com eles e a eles recorria sempre.

Na Redação da Folha de S. Paulo, também, porque lá convivi com Matinas Suzuki, Eleonora de Lucena, Melchiades Filho e Renata Lo Prete, Clovis Rossi (novamente) e Carlos Brickmann. Falava menos com estes, mas sabia que podia contar com a ajuda de todos.

De setembro a esta parte, vivo uma situação diferente. Tenho mais liberdade de ação, mais disponibilidade de tempo, trabalho boa parte do dia no meu escritório particular (em casa), posso dar atenção às minhas mulher e netinha Be(bê)atriz, aos meus filhos e aos meus parceiros de negócios.

Porém (sempre tem um porém), confesso que sinto falta das agitações das redações por onde passei (Estadão, Folha, Jornal do Brasil, Correio Braziliense, Imprensa Oficial, O Estado de MS, Comércio da Franca...), dos grandes escritórios, dos grandes plantões, dos bons parceiros (ainda que eles não fossem amigos) e até dos chatos.

Ficar só numa redação, num escritório, em casa ou num plantão é bom, às vezes é muito bom, mas nem sempre.

Por quê?

Ah... e você ainda pergunta por que?

(*) Cláudio Amaral clamaral@uol.com.br é jornalista desde 1º de maio de 1968; professor e orientador de jovens jornalistas; palestrante e consultor de empresas para assuntos de comunicação institucional.

8/2/2008 09:59:57

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