Por quê? (7) O nariz
Cláudio Amaral
São 10 horas e 11 minutos da manhã de quarta-feira, dia 21 de novembro de 2007.
Estou dentro do trem do Metrô de São Paulo.
Embarquei na estação Ana Rosa, a mesma onde entrei para a minha primeira viagem no Metrô paulistano, há mais de 30 anos.
Meu destino, hoje, é a estação São Judas.
De lá, depois de passar pela Igreja de São Judas e pedir luz para os meus caminhos, pretendo seguir para o Campo Belo, logo após o Aeroporto de Congonhas.
É naquele bairro, exatamente atrás do Extra do Aeroporto, que irei passar o dia todo, até 19 horas.
Olho para cada passageiro do vagão em que estou fazendo o trajeto Norte-Sul.
De repente, um assoar de nariz me chama a atenção e eu olho em diagonal.
A não mais do que três metros de mim está um senhor, um jovem senhor.
Ele é mais alto do que eu, mais careca do que eu, usa óculos, veste uma camisa clara de mangas compridas, calça de brim azul desbotada e botina marrom.
Tem o nariz avantajado e talvez seja por isso que fez tanto barulho ao assoar as narinas.
O lenço é de papel e o homem o passa da direita para a esquerda e da esquerda para a direita.
Ao terminar a higiene nasal, ele olha para a direita, ergue a cabeça e o olhar, em seguida suspende a mão direita e... surpresa!
Não acredito!
Ele jogou o lenço de papel na... não, não foi na cesta do lixo, não.
Ele jogou o lenço que usara para limpar o nariz pela parte superior da janela do trem.
“Por que ele teria feito isso?”, me perguntei.
Indignado, surpreso, não querendo acreditar no que acabara de ver, eu olhei fixamente para o meu colega de vagão e, sem pensar, balancei a cabeça em sinal de reprovação.
Quis falar com o cidadão do nariz grande, mas não tive coragem.
Pensei em perguntar a ele: “Por que o senhor fez isso”, mas achei melhor ficar na minha.
Ele poderia muito bem me dizer: “O que o senhor tem com isso? Cuide do seu nariz que eu cuido do meu”.
Chegou a estação São Judas e nós dois nos levantamos.
Rumamos para a mesma porta de saída.
Fiquei lado a lado com o narigudo, mas, quando a porta do trem se abriu, eu deixei que ele desse os primeiros passos e fosse embora.
Ele foi, apressado.
Eu também fui, mas sem pressa.
E, enquanto ele se distanciava, eu fiquei a me perguntar: “por que o homem do nariz desenvolvido jogou o papel pela janela, no leito carroçável do trem?”
E, antes que minha mente se ocupasse de outros assuntos, me fiz mais uma pergunta: “será que ele faz isso na casa dele, também?”.
Pelo sim, pelo não, eu gostaria de saber mais uma coisa: “por que as pessoas agem assim?”
(*) Cláudio Amaral clamaral@uol.com.br é jornalista desde 1º de maio de 1968; professor e orientador de jovens jornalistas; palestrante e consultor de empresas para assuntos de comunicação institucional.
21/11/2007 18:03:38
São 10 horas e 11 minutos da manhã de quarta-feira, dia 21 de novembro de 2007.
Estou dentro do trem do Metrô de São Paulo.
Embarquei na estação Ana Rosa, a mesma onde entrei para a minha primeira viagem no Metrô paulistano, há mais de 30 anos.
Meu destino, hoje, é a estação São Judas.
De lá, depois de passar pela Igreja de São Judas e pedir luz para os meus caminhos, pretendo seguir para o Campo Belo, logo após o Aeroporto de Congonhas.
É naquele bairro, exatamente atrás do Extra do Aeroporto, que irei passar o dia todo, até 19 horas.
Olho para cada passageiro do vagão em que estou fazendo o trajeto Norte-Sul.
De repente, um assoar de nariz me chama a atenção e eu olho em diagonal.
A não mais do que três metros de mim está um senhor, um jovem senhor.
Ele é mais alto do que eu, mais careca do que eu, usa óculos, veste uma camisa clara de mangas compridas, calça de brim azul desbotada e botina marrom.
Tem o nariz avantajado e talvez seja por isso que fez tanto barulho ao assoar as narinas.
O lenço é de papel e o homem o passa da direita para a esquerda e da esquerda para a direita.
Ao terminar a higiene nasal, ele olha para a direita, ergue a cabeça e o olhar, em seguida suspende a mão direita e... surpresa!
Não acredito!
Ele jogou o lenço de papel na... não, não foi na cesta do lixo, não.
Ele jogou o lenço que usara para limpar o nariz pela parte superior da janela do trem.
“Por que ele teria feito isso?”, me perguntei.
Indignado, surpreso, não querendo acreditar no que acabara de ver, eu olhei fixamente para o meu colega de vagão e, sem pensar, balancei a cabeça em sinal de reprovação.
Quis falar com o cidadão do nariz grande, mas não tive coragem.
Pensei em perguntar a ele: “Por que o senhor fez isso”, mas achei melhor ficar na minha.
Ele poderia muito bem me dizer: “O que o senhor tem com isso? Cuide do seu nariz que eu cuido do meu”.
Chegou a estação São Judas e nós dois nos levantamos.
Rumamos para a mesma porta de saída.
Fiquei lado a lado com o narigudo, mas, quando a porta do trem se abriu, eu deixei que ele desse os primeiros passos e fosse embora.
Ele foi, apressado.
Eu também fui, mas sem pressa.
E, enquanto ele se distanciava, eu fiquei a me perguntar: “por que o homem do nariz desenvolvido jogou o papel pela janela, no leito carroçável do trem?”
E, antes que minha mente se ocupasse de outros assuntos, me fiz mais uma pergunta: “será que ele faz isso na casa dele, também?”.
Pelo sim, pelo não, eu gostaria de saber mais uma coisa: “por que as pessoas agem assim?”
(*) Cláudio Amaral clamaral@uol.com.br é jornalista desde 1º de maio de 1968; professor e orientador de jovens jornalistas; palestrante e consultor de empresas para assuntos de comunicação institucional.
21/11/2007 18:03:38
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