Por quê? (21) Diploma
Cláudio Amaral
Sempre trabalhei muito.
Desde os seis anos de idade, quando era criança pequena lá pelos lados do Sacomã.
Você não conhece o Sacomã, caro leitor?
É um lugar que fica depois do Ipiranga e da Estrada das Lágrimas, a caminho do litoral paulista.
Foi naqueles lados da Capital que morei com minha família dos cinco aos oito anos de idade, ou seja, de 1955 a 1958.
Logo após a Copa do Mundo da Suécia, meu pai fez as malas, juntou a família (mulher e quatro filhos) e voltamos para Adamantina, no interior do Estado de São Paulo, onde nasci.
Por conta do trabalho, excessivo mas necessário ao complemento do orçamento familiar, meus estudos foram sempre levados na base do sacrifício.
Naquela época não tinha essa de começar a trabalhar após a faculdade.
Na minha família, pelo menos.
Ou na minha classe social.
Quando começava a andar, o menino já era encaminhado para o trabalho.
Por quê?
Por necessidade.
Fiz boa parte do primário numa escola pública do Moinho Velho, em São Paulo, e fui completar a primeira fase do hoje chamado Ensino Fundamental no 1º Grupo Escolar de Adamantina.
A segunda fase, da 5ª a 8ª série, cursei em partes, mas todas em Adamantina: uma no Atheneu Bento da Silva, outra no Instituto Educacional, ambos particulares, e a última no Hellen Keller, um colégio público.
Completei o ginasial em fins de 1968, quando já trabalhava em jornal: era correspondente do Jornal do Comércio de Marília em Adamantina.
E para Marília eu me mudei, pela primeira vez sem a família, em janeiro de 1969.
Fui a convite do Mestre Irigino Camargo, dono do JC, que logo me arrumou uma bolsa de estudos no Colégio Cristo Rei.
Foi lá que eu cursei o primeiro semestre do colegial, hoje conhecido como Ensino Médio.
O primeiro semestre, e só.
Por quê?
Porque nas férias de julho veio o convite para ser correspondente do Estadão em Marília e, por conta do JC e do então maior jornal do Brasil, tive que abandonar os estudos.
Já casado e morando em São Paulo, novamente, tentei eliminar as matérias do colegial, uma a uma, mas não consegui chegar ao fim.
Ficaram faltando Matemática, Física, Química, Biologia e Inglês.
E faltando elas ficaram até fins de 2006, quando não tive saída: ou completava o Ensino Médio ou não tinha como dar seqüência aos meus estudos.
Foi um sufoco.
Apelei para a esposa, os filhos, os amigos, professores particulares e rezei muito, sempre pedindo forças e mais forças a Deus.
No fim, após um ano de estudos, 15 provas regulares (três por matéria), mais três trabalhos de adaptação de artes, mais quatro provões e uma luta que me parecia infindável para conseguir um tal de “visto confere” no meu certificado de conclusão do ginasial, hoje, exatamente hoje, 5 de janeiro de 2008, me chegou uma mensagem oficial avisando que meu diploma está pronto.
Nem acreditei, caro leitor.
Por quê?
Porque jamais imaginei ter que voltar no tempo e completar o Ensino Médio.
Por quê?
Porque estou com 58 anos de idade e nunca precisei desse bendito diploma.
Nem mesmo quando fui me matricular numa pós-graduação da Faculdade Casper Libero, em 1978, e num mestrado da Universidade de Navarra, Espanha, em 2003.
Por quê?
Ah... e você ainda pergunta por que?
(*) Cláudio Amaral clamaral@uol.com.br é jornalista desde 1º de maio de 1968; professor e orientador de jovens jornalistas; palestrante e consultor de empresas para assuntos de comunicação institucional.
5/1/2008 16:33:45
Sempre trabalhei muito.
Desde os seis anos de idade, quando era criança pequena lá pelos lados do Sacomã.
Você não conhece o Sacomã, caro leitor?
É um lugar que fica depois do Ipiranga e da Estrada das Lágrimas, a caminho do litoral paulista.
Foi naqueles lados da Capital que morei com minha família dos cinco aos oito anos de idade, ou seja, de 1955 a 1958.
Logo após a Copa do Mundo da Suécia, meu pai fez as malas, juntou a família (mulher e quatro filhos) e voltamos para Adamantina, no interior do Estado de São Paulo, onde nasci.
Por conta do trabalho, excessivo mas necessário ao complemento do orçamento familiar, meus estudos foram sempre levados na base do sacrifício.
Naquela época não tinha essa de começar a trabalhar após a faculdade.
Na minha família, pelo menos.
Ou na minha classe social.
Quando começava a andar, o menino já era encaminhado para o trabalho.
Por quê?
Por necessidade.
Fiz boa parte do primário numa escola pública do Moinho Velho, em São Paulo, e fui completar a primeira fase do hoje chamado Ensino Fundamental no 1º Grupo Escolar de Adamantina.
A segunda fase, da 5ª a 8ª série, cursei em partes, mas todas em Adamantina: uma no Atheneu Bento da Silva, outra no Instituto Educacional, ambos particulares, e a última no Hellen Keller, um colégio público.
Completei o ginasial em fins de 1968, quando já trabalhava em jornal: era correspondente do Jornal do Comércio de Marília em Adamantina.
E para Marília eu me mudei, pela primeira vez sem a família, em janeiro de 1969.
Fui a convite do Mestre Irigino Camargo, dono do JC, que logo me arrumou uma bolsa de estudos no Colégio Cristo Rei.
Foi lá que eu cursei o primeiro semestre do colegial, hoje conhecido como Ensino Médio.
O primeiro semestre, e só.
Por quê?
Porque nas férias de julho veio o convite para ser correspondente do Estadão em Marília e, por conta do JC e do então maior jornal do Brasil, tive que abandonar os estudos.
Já casado e morando em São Paulo, novamente, tentei eliminar as matérias do colegial, uma a uma, mas não consegui chegar ao fim.
Ficaram faltando Matemática, Física, Química, Biologia e Inglês.
E faltando elas ficaram até fins de 2006, quando não tive saída: ou completava o Ensino Médio ou não tinha como dar seqüência aos meus estudos.
Foi um sufoco.
Apelei para a esposa, os filhos, os amigos, professores particulares e rezei muito, sempre pedindo forças e mais forças a Deus.
No fim, após um ano de estudos, 15 provas regulares (três por matéria), mais três trabalhos de adaptação de artes, mais quatro provões e uma luta que me parecia infindável para conseguir um tal de “visto confere” no meu certificado de conclusão do ginasial, hoje, exatamente hoje, 5 de janeiro de 2008, me chegou uma mensagem oficial avisando que meu diploma está pronto.
Nem acreditei, caro leitor.
Por quê?
Porque jamais imaginei ter que voltar no tempo e completar o Ensino Médio.
Por quê?
Porque estou com 58 anos de idade e nunca precisei desse bendito diploma.
Nem mesmo quando fui me matricular numa pós-graduação da Faculdade Casper Libero, em 1978, e num mestrado da Universidade de Navarra, Espanha, em 2003.
Por quê?
Ah... e você ainda pergunta por que?
(*) Cláudio Amaral clamaral@uol.com.br é jornalista desde 1º de maio de 1968; professor e orientador de jovens jornalistas; palestrante e consultor de empresas para assuntos de comunicação institucional.
5/1/2008 16:33:45
Comentários