Por quê? (32) Emoção


Cláudio Amaral

Uma figura nem um pouco inusitada – ou seja, normal para os padrões da vidinha que nós levamos aqui na metrópole – me contou que a figura no mínimo inusitada foi vista noite dessas no Memorial da América Latina.

Para quem não leu minhas crônicas de 9 e 26/1/2008 é preciso explicar que uma figura no mínimo inusitada tem perambulado pelas ruas, lojas, centros comerciais, ônibus, estações e trens do Metrô de São Paulo.

No dia 9, foi vista lá pelos lados da Igreja de São Judas Tadeu e do Aeroporto de Congonhas. Às vezes de ônibus, outras de Metrô e também andando a pé.

No dia 26, na Avenida Altino Arantes e na Rua Mário Amaral, respectivamente na Vila Clementino e no Paraíso.

Na noite de 25/1/2008, data do aniversário de 454 anos de São Paulo, a cidade, a figura no mínimo inusitada acompanhou a abertura da exposição de fotos instalada no Memorial da América Latina, onde aparecem, entre outras, as imagens que deram o Premio Esso a Tiago Brandão, repórter do jornal Comércio da Franca (SP).

Em trajes formais, ela, a figura no mínimo inusitada, chegou só, mas foi embora muito bem acompanhada.

Falou pelos cotovelos.

Mostrou-se interessada em cada uma das imagens da Retrospectiva 2007 promovida pela Arfoc, a Associação dos Repórteres Fotográficos e Cinematográficos do Estado de São Paulo.

Observou que a primeira e a última fotografia homenageavam dois cidadãos de um mesmo nome: Paulo.

Não! Paulo Maluf, não!

O primeiro, recentemente falecido, era Paulo César Bravos, repórter fotográfico do Diário de S. Paulo, nascido em Marília (SP) e cidadão do mundo.

O segundo, falecido ano passado, exatamente no dia 12/10/2007, o ator Paulo Autran, um dos maiores nomes do teatro brasileiro em todos os tempos.

Bravos é mostrado em ação, como, aliás, sempre estava quando empunhava uma máquina fotográfica.

Na Retrospectiva 2007, da Arfoc, ele pode ser visto até o dia 14/2/2008, em meio aos bombeiros que combatiam o fogo numa favela da Capital.

Autran, por sua vez, está retratado na sua última aparição pública, no palco do Theatro Municipal de São Paulo.

Ele aparece com as duas mãos na boca, mandando um beijo para a platéia.

Foi o beijo da despedida.

O beijo da alegria, da felicidade, da realização, porque Paulo Autran estava alegre, feliz e realizado naquela ocasião, embora sofresse com o mal que o levou do nosso meio.

A foto de Autran é exatamente a 80ª da exposição.

Dela, a figura no mínimo inusitada voltou, uma a uma, até parar na primeira, novamente.

Deteve-se e leu dois textos ali estampados: um de apresentação da mostra, outro em homenagem a Paulo César Bravos.

Leu e releu.

Calada, a figura no mínimo inusitada se emocionou.

Quase foi às lagrimas.

Até parece que conheceu de perto o homenageado, o marido de Marilena Torres Bravos, o pai de Vanessa, Thais e Renata, o filho do saudoso José Arnaldo e da vivíssima Dona Cidinha.

Por quê?

Ah... e você ainda pergunta por que?

(*) Cláudio Amaral clamaral@uol.com.br é jornalista desde 1º de maio de 1968; professor e orientador de jovens jornalistas; palestrante e consultor de empresas para assuntos de comunicação institucional.

26/1/2008 15:58:40

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