Por quê? (22) Adeus

Cláudio Amaral

Paulo César Bravos era um aventureiro.

Gostava de aventuras como poucos.

Aventurou-se ao sair de Marília para vir viver em São Paulo.

Viveu apertado, mas sempre entre amigos, num prédio que só tinha aventureiros como ele, na região central da Capital paulista.

Paulo César Bravos era um aventureiro.

E daqui aventurou-se pelas estradas e cidades da América do Sul, viajando a dedo por boa parte do nosso continente.

Na primeira metade dos anos 70 do século passado, quando a família já estava perdendo a esperança de ter notícia dele, tamanha era a ebulição política nos países que nos cercam e no Brasil, também, eis que ele surge do nada em nosso apartamento, na Rua Dr. Nicolau de Souza Queiroz, na Aclimação.

Barbudo, cabeludo e vestido da forma mais simples possível, como todo aventureiro, ele nos trazia notícias e histórias que só um aventureiro incorrigível tem para nos contar.

Paulo César Bravos era um aventureiro.

E como tal foi trabalhar nas obras da primeira linha do Metrô paulistano.

Ele já havia sido picado pelo Jornalismo.

Tinha a reportagem fotográfica no sangue.

Mas foi como apontador que ele decidiu se aventurar pelos buracos do Metrô.

Nos momentos de folga, aparecia no nosso novo apê, próprio, na Rua Machado de Assis, para ver a irmã e a sobrinha.

Paulo César Bravos era um aventureiro.

E como tal se meteu na política, sindical e partidária, alinhando ao PT.

Essa era uma de nossas diferenças.

Uma delas, porque pensávamos diferente em matéria de política partidária (eu, PMDB e depois PSDB e ele, PT) e, por conseqüência, de política sindical, razão pela qual sempre estivemos em lados opostos no Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo.

Pensávamos diferente, também, em matéria de futebol, porque era fanático pelo SPFC e eu sou e sempre serei pelo Corinthians.

Paulo César Bravos era um aventureiro.

E, como quase todos nós, se aventurou no casamento, também.

Felizmente, com uma mulher que sempre teve a cabeça no lugar e lhe deu três filhas.

Foi em nome dela que ele comprou o primeiro equipamento fotográfico, no extinto Mappin, em frente ao Theatro Municipal de São Paulo.

De máquina em punho, lá foi Paulo César Bravos se aventurar pelo jornalismo da vida.

Aventurou-se Brasil afora a serviço principalmente de O Globo e Diário de S. Paulo, junto ao qual teve carteira assinada nos últimos anos.

Paulo César Bravos era um aventureiro.

Aventurou-se, inclusive, pelo mundo do samba.

Entre os sambistas ele era o “Paulinho Imprensa”.

Foi com esse nome que ele assinou enredos e letras mostrados anos após anos pela passarela do samba paulistano, no Anhembi.

Paulo César Bravos era um aventureiro.

E, insatisfeito, nos últimos anos resolveu que havia de se aventurar ainda mais: comprou uma bicicleta e saiu pedalando pelas movimentadas, esburacadas e inseguras ruas de São Paulo.

As pedaladas, sempre em cima de duas rodas, representaram a última aventura do terceiro filho do saudoso jornalista José Arnaldo e de dona Cidinha, uma das avós (e bisavós, também) mais queridas do Brasil.

Foi por conta delas, das pedaladas e das ruas inseguras de São Paulo, que ele nos deixou aos 57 anos de idade, por volta das 11h30 da manhã de hoje, domingo, 6 de janeiro de 2008, num leito da UTI do Hospital Paulistano, onde, ao lado dele, a mulher Marilena, as filhas Vanessa, Taís e Renata, a mãe, as irmãs, as sobrinhas e os sobrinhos, os cunhados e os amigos sofreram nos últimos 60 dias.

Paulo César Bravos era um aventureiro.

Paulo César Bravos era um aventureiro que vai nos fazer falta e deixar muitas saudades em todos nós que tivemos o privilégio de com ele conviver.

Por quê?

Ah... e você ainda pergunta por que?

(*) Cláudio Amaral clamaral@uol.com.br é jornalista desde 1º de maio de 1968; professor e orientador de jovens jornalistas; palestrante e consultor de empresas para assuntos de comunicação institucional.

6/1/2008 16:59:24

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Por quê? (442) – Saudade

Por quê? (441) – Cartas a Théo

Por quê? (443) – Pontes, Céus e Miragens